No dia 13 de maio de 2023, o Brasil celebrou os 135 anos da assinatura da Lei Áurea, marco histórico que oficializou o fim da escravidão no país. É essencial que ao celebrar essa data, resgatemos a memória e a atuação dos verdadeiros heróis da luta abolicionista, muitas vezes negligenciados pela narrativa histórica oficial. É necessário reafirmar que a Princesa Isabel, frequentemente enaltecida como a responsável pela abolição, representa apenas uma parte da história.
A monarquia brasileira, historicamente conivente e beneficiária da escravidão, não pode ser vista como uma figura abolicionista genuína. Devemos saber mais sobre os mais notórios, como Luís Gama, José do Patrocínio e André Rebouças, mas também sobre pessoas como Francisco José do Nascimento, o Dragão do Mar, herói da resistência que fez o Ceará abolir a escravidão ainda em 1884. Ainda neste sentido de conhecer o passado para entender o presente e melhorar o futuro, devemos nos aprofundar mais a respeito dos fatos regionais.
Assim, é imprescindível destacar a história de Joaquim Firmino de Araújo Cunha, um mogimiriano que se tornou um símbolo de resistência e luta contra a escravidão. Joaquim Firmino, conhecido como um delegado abolicionista, foi uma voz destemida em defesa dos direitos dos negros e na busca pela libertação dos escravizados.
Sua trajetória é marcada pelo engajamento na causa abolicionista, e sua coragem ficou evidente no famoso “Crime da Penha”, ocorrido em 1888. Nesse episódio trágico, Joaquim Firmino foi assassinado por defender os direitos dos negros e confrontar os interesses daqueles que insistiam em manter o sistema escravocrata. Seu sacrifício representa a força e a determinação dos abolicionistas negros, que enfrentaram perseguições e violências em prol da liberdade.
A morte deste mogimiriano mudou o curso da história do Brasil. O “Crime da Penha”, a atual Penha do Rio do Peixe, hoje Itapira, foi o estopim para a oficialização da queda da política de escravidão assim como o assassinato do arquiduque Francisco Ferdinando é a causa principal para o estouro da Primeira Grande Guerra Mundial.
Firmino assumiu o posto em 1885 e, por integrar o Clube Cosmopolita, de atuação abolicionista, foi atuante na libertação de escravizados, gerando a ira da aristocracia da época. Resultado? Um inglês e um americano que haviam se mudado para o Brasil depois de lutarem na Guerra de Secessão dos Estados Unidos do lado dos confederados, que eram contrários ao fim da escravidão no país, mandaram matar o mogimiriano e o caso invadiu o noticiário nacional. A repercussão foi tamanha que, anos depois, a Penha do Rio do Peixe precisou mudar de nome para afastar a mancha em sua história e se converteu em Itapira.
Em 2023, ainda é evidente que a Lei Áurea não bastou. Os 388 anos de escravidão ainda têm raízes firmes e a desigualdade, sobretudo racial, empurra em uma maioria para a miséria. A fome é tão hereditária quanto o luxo e as linhagens dos tempos da escravidão ainda não tiveram as correntes totalmente quebradas. Mesmo assim, compreender a história e os personagens, os nossos personagens, tem um preço fundamental para a construção de uma sociedade mais culta e preparada para os desafios presentes e futuros.