Professora de dança afro por 13 anos no Centro Cultural de Mogi Mirim, Anna Sylvia Tavares Viera, deixou as aulas no final de maio para se dedicar a projetos pessoais. Atrelado aos sonhos, a professora revela que sua saída também foi antecipada pela falta de organização pela qual passa a secretaria de Cultura da cidade. Em entrevista ao O POPULAR, Anna Sylvia falou sobre seus novos projetos e explica o motivo que a fez deixar o curso de dança afro, que já tem novo professor, Glauber Almeida, 21, que passou a fazer aula com ela quando tinha apenas sete anos.
Agora, Anna está inteiramente dedicada ao seu estúdio de dança, que já estava funcionando antes mesmo de sua saída ocorrer. Ter mais tempo, de acordo com ela, favorecerá a dedicação à família, os cuidados com os joelhos, afetados por muitos anos de dança (sendo que um já passou por cirurgia), e a realização de um sonho que estava engavetado, que é impulsionar seu estúdio. Antes, porém de sua saída, Anna recebeu inúmeras cartinhas dos alunos que demonstraram por meio de desenhos e frases a admiração pela profissional.
O POPULAR – Anna, o que motivou seu pedido de demissão da Prefeitura?
Anna – Faz dois, três anos que venho trabalhando na minha cabeça a saída do Centro Cultural. Saio com sensação boa, mas com coração partido, porque treze anos não são treze dias, né? A gente vê que as coisas no Centro Cultural não estão bem e isso veio me desmotivando. Eu não tenho nada contra ninguém, mas nessa gestão é muito entra e sai, muito secretário, muita gente e muito nada, muita gente pra nada. Nada que eu digo é entre aspas porque sempre tá acontecendo uma coisa ou outra. Mas tudo ficou muito confuso, inclusive as pessoas que chegam no Centro Cultural não entendem que a gente que tá lá dentro trabalha, sabe o que tem que fazer. Então, ficou uma relação muito complicada. Eu não gosto de sentir medo. É estranho você estar a tanto tempo dentro da sua casa, que eu sempre considerei o Centro Cultural como minha segunda casa, e pessoas que chegam querem te botar medo, sabe? Outras pessoas ficam te abordando: cuidado, essa pessoa que tá chegando (…). Mas pra que isso? Cuidado com o que? Então essas coisas começaram a me incomodar demais. Virou uma bagunça porque você não sabe realmente quem está tomando conta, muita gente que acaba que te confundindo. Não foi só isso, eu tomei essa decisão há algum tempo coloquei minha saúde e minha família em primeiro lugar. Tudo tem seu tempo”.
O POPULAR – A partir de agora, quais são os planos?
Anna – Desde quando eu entrei no Centro Cultural eu fiz um grupo que leva o nome de Beleza A e esse grupo saia para competir, muitas vezes eu saí como grupo de dança afro do Centro Cultural, mas eu tinha esse grupo. Então, nós estamos agora em 17 integrantes que vestiram a camisa do Stúdio Beleza A, e agora é dançar mais do que nunca. Durante a semana eu também voltei com a dança solta no Stúdio. A dança solta é uma aula que envolve vários ritmos, não é só o axé, o samba, o pagode, o forró, o sertanejo, é de tudo um pouco. E a aceitação está sendo muito boa, com aulas de terça e quinta, às 20h, mas agora com disponibilidade vou abrir outros horários, entrar com a Zumba por meio de uma parceria. Além do grupo, também vou abrir aulas de dança afro, não vou deixar morrer, a intenção é ampliar para divulgar a cultura afro-brasileira. Mais informações, o telefone é (19) 99392-8993.
O POPULAR – Qual o sentimento em ter saído do Centro Cultural, mas ter deixado um aluno e hoje amigo, como professor de dança afro em seu lugar?
Anna – Várias vezes já havia citado o nome dele (…). Ele é uma pessoa muito dedicada. Eu já brincava com ele antes e dizia: “quando eu sair quem vai ficar no meu lugar é você”. E deu certo. A gente sempre teve uma troca de falar de tudo um pouco e eu acho que ele é a pessoa ideal para ficar ali porque todos esses anos ele esteve do meu lado vivenciando tudo de bom e tudo de ruim. Então, ele está mais do que preparado para dar continuidade a esse trabalho. Ele é incrível, sou fã do Glauber.
O POPULAR – Por qual motivo você demorou para se pronunciar sobre sua saída?
Anna – “Eu demorei esse tempo todo em respeito aos meus pais (Lázaro Laércio P.Tavares e Ordalina da Silva Tavares), que são de idade e moram em Mirassol, e irmãos (Clodomiro,Clodoaldo e Clodomar). E eu não dar essa notícia pelas redes sociais. Todo mundo esperou meu momento de falar com os meus pais, afinal de contas eles são educadores aposentados e eles sabem o quanto é importante você ter um trabalho seguro e eu não queria chateá-los. E foi incrível a maneira que eles receberam a notícia, me acolheram e mais do que nunca eu percebi que minha família tem que estar em primeiro lugar. Me disseram Anna o mais importante é a sua felicidade e vamos estar com você sempre que precisar. Essa demora foi necessária.
Sem resposta
Questionada em relação às possíveis turbulências por quais vem passando a Secretaria de Cultura e Turismo, a Prefeitura não se manifestou até o fechamento desta edição.