Mogi Mirim, dezembro de 1942. Anos difíceis economicamente e quando a maioria dos mogimirianos tinha baixos rendimentos e com os bolsos praticamente vazios, apenas com poucos réis e moedas de quatrocentão tilintando solitárias ou com outras de menor valor.
Tempos sem luxo e quando a maior parte da preocupação era com a subsistência da família, com o pão nosso de cada dia e o leite das crianças. Roupa nova, uma raridade, calçados recebendo meia sola, viagens só de trem pela Mogiana. Os empregos eram escassos na cidade e somente nos campos a mão de obra era absorvida, enfrentando a dura lida sob sol e chuva. Se tudo isso acontecia com os adultos, imagem as crianças!
Nas raras vezes em que o menino sonhador ganhava dos pais e avós moedas de quatrocentão (quatrocentos réis), corria comprar balas. Seu armazém preferido era o do Victório Zorzetto pelo fato dele ter enormes mãos, as maiores dos comerciantes mogimirianos! A explicação é bem curiosa: naqueles benditos tempos as balas não eram contadas como hoje, apenas um punhado delas seguras nas mãos e retiradas dos potes de vidro. A moeda quatrocentão dava direito a dois punhados de balas. Com as enormes mãos do Victório, a criançada saia ganhando maior quantidade daquelas guloseima
Há 74 anos, o Papai Noel era praticamente desconhecido da criançada de Mogi Mirim. Somente os filhos de famílias mais ricas ganhavam algum presente sofisticado. Os pobrezinhos e menos abastados, quando muito ganhavam um brinquedo artesanal. No caso do menino sonhador, ele ganhava do avô Américo um joão-mendengue que fazia peripécias de equilíbrio quando se esticava a cordinha onde ficava preso. Ou então um caleidoscópio de pedaços de vidros coloridos, que formava figuras geométricas maravilhosas, como flores ou objetos multicoloridos. Do pai, recebia um caminhãozinho de madeira feito à mão ou um patinete de rolimã construído em conjunto, pai e filho. Mesmo com toda essa simplicidade lúdica, a felicidade se espalhava no coração do menino sonhador.
Na passagem do Ano Novo, a grande alegria da criançada era pedir o bom ano aos vizinhos, parentes e amigos, saindo às ruas de manhãzinha com um saquinho de pano para colocar as moedas ou às vezes até nota de réis recebidas como brinde. Era o que também fazia o menino sonhador e que, ao fim do dia, sentava na calçada para contar o dinheiro recebido. O destino já estava traçado: comprar balas e doces, encher o álbum de figurinhas ou saborear sorvetes. Se houvesse sobras de dinheiro, iria para o cofrinho ou comprar ingressos para os filmes de Tarzan e Flash Gordon.
Além disso, as tardes de Natal e Ano Novo do menino sonhador eram reservadas para assistir o espetáculo do trenzinho elétrico da Casa Moraes. O proprietário costumava apresentar na vitrine de vidro do seu armazém um concorrido espetáculo de movimentos, um trenzinho que deslizava sobre os trilhos, passando em pontes, túneis e apitando estridentemente, com faróis iluminados. Por cerca de duas horas diárias em que o trenzinho era acionado, o menino sonhador pensava: “- Será que um dia vou possuir um trenzinho desse?”. Mas ele nunca conseguiu realizar esse desejo. Entretanto, compensava nos sonhos noturnos, em que se via dirigindo o trenzinho encantado da Casa Moraes!
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Túnel do Tempo – Em 29 de dezembro e 1929, por iniciativa dos comerciantes de Mogi Mirim, Posse e Artur Nogueira, em Assembleia Geral, foi fundada a Associação Comercial de Mogi Mirim, instalada em prédio próprio. Há 87 anos!
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Preceitos Bíblicos – “Por amor a meus irmãos e amigos, peço que a paz esteja em ti! Pelo amor que tenho à casa do Senhor, eu te desejo todo o bem”. (Salmo 121).
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Feliz Natal a todos os meus leitores. Boas festas e paz em suas vidas!