Palmeiras, Uruguai, Montevidéu, Estádio Centenário. As histórias se entrelaçam e entre as linhas verdes e celestes escritas ao longo dos anos, algumas tiveram o testemunho mogimiriano. Neste sábado, 27, os alviverdes da inegável italiana Mogi Mirim ostentarão a sua fibra ao acompanhar, a partir das 17h, mais uma decisão da Conmebol Libertadores da América. É dia de Palmeiras x Flamengo, em partida agendada para um Estádio Centenário que já viu o Verdão disputar outras taças. Em uma delas, um grupo de amigos mogimirianos saíram daqui em uma Kombi e viram de perto um dos grandes jogos da competição, em 1968.
Esta história começa bem antes, afinal, a família de Luiz Carlos Zaniboni é ligada à colônia italiana, como muitas aqui da cidade. E todos eram palmeirenses, como conta o empresário, hoje com 76 anos. Os Zaniboni vieram da região da Cremona e ainda tem os Colosso, que vieram de Napoli.
As primeiras lembranças de Luiz remetem à década de 1950. Em 6 de março de 1958, o Palmeiras de Mazzola, um piracicabano que defendeu Brasil e Itália em Copas do Mundo, enfrentou o Santos de Pelé. E a partida entrou para a história do futebol, em um 7 a 6 para o Peixe que encantou muita gente, incluindo o mogimiriano. Mas que também causou danos que contribuíram para batizar o duelo. O prélio daquela tarde ficou conhecido como “A Partida dos Infartos”, por conta dos cinco incidentes cardíacos entre os torcedores que não aguentaram a emoção de tantos gols e viradas no placar. “Ouvi o jogo no rádio, foi inesquecível. Santos 7 × 6 Palmeiras, em 1958 foi um jogo que entrou para a história do futebol brasileiro”, conta Luiz.
Os primeiros jogos in loco, porém, foram anos depois, em Campinas. Primeiro, em duelo com o Guarani. Depois, também em partidas do Verdão contra a Ponte Preta. Mas aí veio 1968. O Palmeiras, campeão do Robertão e da Taça Brasil de 1967, representou o Brasil ao lado do Náutico, vice-campeão da Taça Brasil.
Na primeira fase, além de enfrentar os pernambucanos, também encarou os venezuelanos do Deportivo Galícia e do Deportivo Portugués. Na fase seguinte, hora de encarar Universidad Católica, Guarani do Paraguai e o Peñarol. No dia 23 de abril, vitória sobre os uruguaios por 2 a 1, em pleno Centenário e vaga na decisão.
O adversário era o Estudiantes. O time de La Plata, comandado por Osvaldo Zubeldía, tinha nomes de respeito, incluindo Juan Verón, pai de Juan Sebastián Verón, ex-craque da Seleção, campeão da Libertadores de 2009 pelos Pincharratas e atual presidente da agremiação vermelha e branca. Carlos Bilardo, posteriormente técnico da Argentina campeã do Mundial de 1986, também atuava na equipe rival.
No Verdão, estrelas como goleiro Valdir Joaquim de Morais, o zagueiro Baldochi, além de Dudu Servílio e, claro, Ademir da Guia. O técnico era o argentino Alfredo González. Na ida, na casa do Estudiantes, derrota por 2 a 1. Depois, no Pacaembu, 3 a 1 para o Verdão. O regulamento previa a realização de um jogo extra em caso de empate em pontos entre os finalistas e a decisão foi marcada para um campo neutro, em Montevidéu. E assim começou a saga dos mogimirianos…
Contra a maioria argentina após a “carona” de um são-paulino
Luiz Carlos contou a O POPULAR que a ideia de ver a partida surgiu porque a decisão estava emocionante. A derrota fora e vitória em casa forçou o terceiro jogo e lá foram eles. “Aí os palmeirenses fanáticos da cidade se reuniram e resolveram ir”.
Quem emprestou o veículo foi um dos integrantes o Wanderley Zocaratto, que era o dono da Kombi. E uma curiosidade: ele era o único que não era palmeirense. “Ele é são-paulino e topou ir junto com os amigos para o Uruguai”, lembra o palestrino. Aliás, na sexta-feira, 19, Luiz Carlos e Wanderley se encontraram no comércio de Luiz e relembraram aquela e tantas outras histórias.
Aliás, apenas Luiz e Wanderley estão vivos entre os aventureiros de 53 anos atrás. Genaro Botelho, Luiz Brandão, Humberto Brasi e Paulo Bertini não estão mais entre nós, mas vivem eternamente através desta e outras histórias, relacionadas ao Verdão ou não, claro.
Ah, e para ampliar os ingredientes, o jogo ocorreu uma semana depois do aniversário de Luiz Carlos, que recém-completara 23 anos. Assim, aproveitaram para comemorar por lá também. Tanto que, depois do jogo, foram conhecer a Argentina.
Eles deixaram o carro em Colônia do Sacramento e seguiram de barco, um ferry bolt, até Buenos Aires. “Foi uma viagem de aproximadamente uma semana”, recorda o palmeirense. Chegando no Estádio Centenário, um dos mais lendários do planeta, palco da primeira final de Copa do Mundo, em 1930, uma horda argentina. Devido à proximidade com o Uruguai, 90% da torcida dentro do campo era Argentina, pró Estudiantes.
“Predominava a torcida Argentina pela proximidade dos países, foi um jogo bom, bem disputado e teve uma falha do volante no primeiro gol, a pressão da torcida era grande, mas o Palmeiras tinha um grande elenco, duelava com o Santos no Brasil, o único que enfrentava o time de Pelé de igual pra igual”, recorda.
Assim como em 1961, quando o Verdão foi o primeiro brasileiro a disputar uma final e perdeu para o Peñarol, em solo charrua, o resultado não foi o desejado. Ribaudo e Verón fizeram os gols do Estudiantes e o título ficou com o time de La Plata. Mas a viagem valeu a pena. E as histórias daquele 16 de maio de 1968 ficaram marcadas até hoje para aqueles seis mogimirianos que partiram daqui até Montevidéu em uma Kombi e com o amor pelo futebol como combustível.
Legado na família e otimismo contra o Fla
A paixão pelo futebol é hereditária. Os filhos Luizinho e Joao Henrique Galé Zaniboni já foram para fora do país assistir partidas de Copa do Mundo. Após Alemanha e Rússia, para o ano que vem a esperança mais do que verde é ir para o Qatar. Agora, para este sábado, a fé está na mística atual do clube na competição.
Campeão em 2020, após vencer o Santos na decisão, no Maracanã, o Verdão soma 15 partidas consecutivas sem ser derrotado fora de casa na Libertadores – um feito inédito. A segunda maior sequência pertence ao River Plate, que entre as edições de 2018 e 2019, ficou 12 jogos invicto como visitante. A última vez que o Palmeiras foi derrotado longe de casa pelo torneio continental foi em 2019, pela fase de grupos, no revés por 1 a 0 para o San Lorenzo, na Argentina.
Para Luiz Carlos, é uma final com prognósticos mais do que abertos. “Jogo único, tudo pode acontecer. Corremos o risco de sofrer uma goleada histórica, mas também existe a chance de ganhar”. O palpite, porém, é óbvio. A favor do Verdão. 1 a 0, com gol de Roni!
Diferente de 1968, o empresário vai assistir a partida da sua casa. No Centenário, porém, estará seu sobrinho, Leonardo David Zaniboni, o Léo. O legado não tem fim e o desejo dos palestrinos, seja dos Zanibonis ou dos outros milhões pelo país e pelo mundo, é que, diferente de 1968, a festa seja verde e branca no estádio uruguaio.