É lindo quando um sonho se torna realidade. É inspirador quando a trajetória de uma instituição fundamental para a vida de tantas e tantas crianças se mistura com a história de alguém. No dia 29 de junho a Alma Mater completou 30 anos. E é impossível falar da entidade sem relacionar com Maria Terezinha Staut Gomes Pinto. Ela é mais do que a fundadora. Foi desta mulher, religiosa e verdadeira seguidora dos preceitos cristãos, que veio a ideia que fez Mogi Mirim ter uma casa de abrigo tão importante quanto é a Alma Mater.
Aliás, hoje são duas casas. Três décadas depois da oficialização de um sonho que começou antes de 1992, a entidade tem duas unidades. É muito mais do que Dona Terezinha pensou. A mais antiga delas fica na Rua Vitor Salvato, no Mirante. A mais recente, basicamente, no mesmo bairro, na Avenida Padre João Vieira Ramalho. O caminho trilhado pela entidade, que, atualmente, acolhe crianças e adolescentes através de parceria com os poderes público e judiciário, é longo. E vamos tentar compactar, por mais que, com tantas histórias, perderemos detalhes importantes.
Fato é que tudo começou antes mesmo da Alma Mater ser cogitada. Terezinha trabalhava no antigo orfanato ligado à Igreja de Nossa Senhora do Carmo e que hoje funciona como educandário. Foi seu primeiro contato com o terceiro setor. Porém, após um acidente com o filho de um ano e oito meses, veio a inspiração para fundar uma entidade. A princípio a ideia era atender meninas com gestações indesejadas. “Fui com o projeto, de pessoa em pessoa, tentando viabilizá-lo e nos órgãos públicos, para apresentar o projeto. Fiquei quase cinco anos insistindo. Foi algo que nasceu no coração e depois na cabeça”, contou Terezinha a O POPULAR.
Apoio
Nesta batalha ela não se esquece de quem a ajudou. Entre eles os ex-prefeitos Jamil Bacar e Romeu Bordignon. Foi concebida uma primeira diretoria e, quando já haviam sinais de que a ideia sairia da teoria, ela foi procurada pelo Juizado da Infância e da Juventude.
“Nos foi pedido que o estatuto fosse alterado, não mais para meninas gestantes e sim para crianças e 0 a 12 anos. Reunimos a diretoria e alteramos a finalidade”.
Foi assim que a Alma Mater passou a receber, primeiro, crianças vítimas de maus tratos e que passavam pelo juizado. A primeira sede foi na Nova Mogi. Por mais que tivesse encontrado apoio, também havia resistência. Vizinhos de espaços cogitados não queriam um abrigo.
Havia preconceito. Porém, aos poucos, com o alicerce cada vez mais forte, a entidade cresceu. Chegou a receber funcionários do Estado, profissionais ligados à antiga Febem e que conheciam a área na qual a Alma Mater estava se propondo a ocupar.
Tudo convergiu para que a instituição se solidificasse e pudesse ser o que é hoje. O pilar fundamental na vida de crianças e adolescentes. De famílias que precisam do apoio da entidade para avançar. Para viver melhor.
O serviço de acolhimento institucional para crianças e adolescentes vítimas de maus tratos é prestado no município por meio de um Termo de Colaboração entre a entidade e o Poder Público. Isso significa que a Prefeitura contrata os serviços da Alma Mater para a oferta de 40 vagas para um público de zero a 18 anos. Para essa finalidade, o município repassa cerca de R$ 2,2 milhões por ano para a entidade realizar o serviço.
Gestora pública do processo de repasse e fiscalização dos recursos aplicados pela Alma Mater, a secretária municipal de assistência social, Cristina Puls, destaca que a entidade surgiu na esteira da instituição do ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente) no Brasil, em 1990. “Ela já se diferencia das outras instituições de acolhimento porque ela não pegou o processo de orfanato e das antigas febens. A Alma Mater já nasceu com uma perspectiva da criança enquanto sujeito integral numa relação protetiva e não punitiva como era feito o acolhimento das crianças”, apontou.
Missão
A atuação junto à Vara da Infância e Juventude se tornou cada vez mais forte. Tanto que, há pouco tempo, foi assumida a tarefa de zelar por adolescentes. Daí veio a unidade II, citada no começo deste texto. E, como sempre foi, o atendimento é exemplar. Carregado de muito profissionalismo, mas, sobretudo, de amor.
Neste bate papo com O POPULAR, Terezinha relembrou inúmeros casos, principalmente de adoções. Desde crianças positivadas para a AIDS após herdarem a doença dos pais, até situações em que a mãe biológica chegou a buscar a filha, a devolveu e depois a criança foi descoberta pelos avós, que a encheram de carinho. São histórias para encher os olhos de lágrimas. De emoção e felicidade. Por saber que a ideia que nasceu no coração de Terezinha transbordou para o coração de tanta gente.
Nas páginas desta edição, dedicamos singelas letras para quem ofereceu um livro inteiro pelo bem do próximo. Corações maternais que nutrem e também é alimentado pelas boas ações. De empresas, como a Havan, que recentemente colaborou com um aporte importante, passando pelo poder público e por pessoas que preferem não se identificar. Mas que se prontificam a fortalecer uma das instituições mais importantes de Mogi Mirim. Da Alma Mater que zela pelo nosso futuro, ofertando abrigo, amor e muito mais para nossas crianças e adolescentes. De corpo e alma, 30 anos de paixão pela solidariedade.