O Mogi Mirim Esporte Clube completou nesta sexta-feira, 10, quatro anos de sua última aparição na Série A do Campeonato Paulista. Um capítulo de glórias e de um período de afirmação da centenária agremiação como uma das forças do futebol de São Paulo. Uma história interrompida em um dos cinco rebaixamentos carimbados pela ‘Era Luiz Henrique de Oliveira’, a pior em 116 anos do Sapão da Mogiana.
No dia 10 de abril de 2016, o Estádio Vail Chaves recebeu o seu, até aqui, último jogo na elite estadual. Na tarde daquele domingo ensolarado, o Alvirrubro foi a campo precisando vencer o Palmeiras e ainda torcer por uma combinação de resultados para escapar do rebaixamento. O técnico Flávio Araújo, de currículo respeitado no Nordeste, escalou o time com Mauro; Alex Reinaldo, Saimon, Bruno Costa e Motta; Renato Santos, Gabriel Dias, Josa e Lulinha; Keké e Roni.
Do outro lado Cuca contava com peças importantes, como o goleiro Fernando Prass, o lateral-direito Jean e o zagueiro Victor Hugo. Duas crias do Sapão também estavam no lado oposto: o zagueiro Thiago Martins e o meia Robinho. O Verdão abriu o placar com o atacante Alecssandro, aos 15 da etapa inicial. Cinco minutos depois veio a resposta mogimiriana, com Lulinha, de pênalti. Porém, aos 19 do segundo tempo, o centroavante paraguaio Lucas Barrios decretou a derrota do Mogi Mirim e o rebaixado do clube para a Série A2 de 2017.
A competição reuniu 20 clubes e com a limpeza proposta pela Federação Paulista de Futebol (FPF) para adequar o calendário ao desejo dos chamados “grandes”, foram seis rebaixados naquela temporada. Foi assim que o torneio passou a ter 16 clubes e apenas duas passagens para a A2. Naquele ano, o Sapo foi o 16º colocado. Ou seja, se a FPF mantivesse o padrão anterior de apenas quatro degolados, o Sapo escaparia…
Política afunda
Mas, foi feita muita força para o clube descer de série. A política do Sapo começou a ferver em novembro do ano anterior, em meio ao rebaixamento para a Série C do Brasileirão. Luiz Henrique de Oliveira, colocado no cargo de presidente por ser o homem de confiança do empresário Victor Manoel Simões, viu seu nome exposto em denúncias por parte dos antigos parceiros.
As citadas contravenções nem foram decisivas no processo. Como o rito estatuário foi desrespeitado por seus opositores, Oliveira conseguiu reverter o impeachment assinado pelo então presidente do Conselho Deliberativo, Nélio Coelho, sobrinho de Simões. Por dias, LHO chegou a ser obrigado a deixar o clube, mas, através de Justiça, recuperou a condição de presidente. Além disso, em 28 de novembro de 2015, em pleito aberto à imprensa e lotado por associados recém-assinados, oriundos de Guarulhos, foi reeleito para o biênio 2016/2017.
O processo judicial atrasou a montagem do elenco e a preparação. Ainda assim, com Toninho Cecílio como técnico e Marcus Vinícius como auxiliar, o Sapo aproveitou da experiência de ambos como gestores de futebol para contratar jogadores. Chegaram figuras de passagens em clubes grandes, como Lulinha (ex-Corinthians e Botafogo-RJ), Saimon (ex-Grêmio) e Roni (ex-São Paulo).
O Palmeiras emprestou o volante Gabriel Dias, atual jogador do Fortaleza e o clube manteve peças como o goleiro Mauro e o atacante Keké. Com uma folha salarial inchada e uma preparação indevida, em consequência do amadorismo político e administrativo, a campanha foi irregular, culminando no rebaixamento em 10 de abril.
Uma rica história na elite estadual
Foram 29 temporadas figurando entre os principais clubes do futebol de São Paulo. No dia 14 de dezembro deste ano, vamos comemorar os 35 anos do feito histórico de um dos melhores – para muitos o melhor – times do Sapão da Mogiana em seus 116 anos. A equipe do técnico João Magoga, que reunia figuras como Fernando, Ulisses, Oscarzinho, Silvinho, Jorge Demolidor e tantos outros craques faturaram o primeiro acesso do clube à elite estadual.
O grande destaque do elenco formado pelo presidente Wilson Fernandes de Barros era o volante Chicão, ex-São Paulo e Seleção Brasileira. A façanha alçou o Sapo à Primeira Divisão de Profissionais. No dia 23 de fevereiro de 1986, o Mogi iniciou a sua trajetória de 10.747 dias como um clube de primeira estirpe no Estado de São Paulo. Condição que, oficialmente, começou a ser rasgada em menos de 365 dias de LHO como presidente da agremiação.
Nestes 31 anos, apenas em 2007 e 2008 o Mogi não esteve, de fato, na atual Série A1. Em 1995, chegou a jogar e vencer a A2, mas, como o regulamento conduzia o campeão à elite na mesma temporada, não só atuou no primeiro escalão, como terminou com a quarta posição, à frente de São Paulo e Santos. Foi a melhor posição final do clube ao lado da registrada em 2013, quando disputou a única semifinal no formato tradicional, eliminatório. Derrotado pelo Santos, terminou com o mesmo número de pontos – e com dois jogos a menos – que o campeão Corinthians.
Profissionalismo
O Mogi Mirim disputou 83 competições oficiais em sua história. A primeira foi a Terceira Divisão de Profissionais de 1954. No dia 4 de abril, o Sapo comemorou 66 anos do debute profissional. No ano de estreia, fez 21 partidas. Na primeira fase, jogou 10 vezes, diante de Esportiva Itapirense (Itapira), Amparo Athletico (Amparo), Floresta (Amparo), Rigesa (Valinhos) e Atlético Valinhense (Valinhos). Após perder pontos por escalação de atleta irregular, fez um jogo-extra com a Esportiva, vencendo por 3 a 0, em Amparo. Na sequência, na segunda fase, foi eliminado em um grupo que contava com Rigesa (Valinhos), Ceteiense (Taubaté), Ferroviária (Pindamonhagaba), Velo Clube (Rio Claro) e Gran São João (Limeira). Foram 11 vitórias, cinco empates e cinco derrotas, com 42 gols marcados e 13 sofridos.
Foto: Djalma Vassão/Gazeta Press