Um dos princípios mais nobres de uma sociedade, que muitas vezes parece ser ignorado ou atropelado por outros valores, é o direito à liberdade, tanto individual quanto coletivo. Por toda sua amplitude, o conceito de liberdade é difícil de ser sintetizado em uma ideia comum diante da extensa faixa por onde trafegam fatores como subjetividade e conflito de interesses. Independente das possibilidades em que se possa abrigá-la, a liberdade não merece ser relegada a segundo plano.
Da mesma forma, o direito ao lazer e à alegria merece um carinho especial do poder público, mas muitas vezes parece ser jogado para escanteio, em detrimento de outras prioridades.
Em Mogi Mirim, há tempos esse fenômeno é verificado e o direito ao sono e à ordem se sobrepõe de forma avassaladora aos interesses de divertimento, lazer e festejos, tornando a cidade fria. A balança pende de forma a deixar em desvantagem a diversão. O equilíbrio, que deveria ser a busca para balancear interesses, muitas vezes não é buscado, com a preferência do comodismo, escolhendo-se o conforto da medida proibitiva que resolve os problemas com rigor e sem espaço para deslizes. Um dos exemplos mais recentes foi o cancelamento da tradicional romaria, que acabou realizada de forma independente.
Na quinta-feira, a cidade viu mais uma vez a ordem do impedimento golear o direito à liberdade. Como já havia sido feito em outros momentos de comemoração futebolística, o acesso à Praça Rui Barbosa foi fechado, impedindo assim o fluxo de veículos. Uma medida capaz de limitar o direito de ir e vir dos cidadãos ao mesmo tempo em que impede uma alegria de muitos torcedores de celebrarem uma vitória brasileira com uma carreata pela praça mais tradicional da cidade. Definir o bloqueio para evitar manifestações violentas ou excessos parece a medida mais cômoda.
A quinta-feira festiva para muitos, observada com alegria em diversos bares e residências, unindo famílias e amigos para torcer pela seleção, se tornou triste nas proximidades da Praça Rui Barbosa, deixando o Centro mais uma vez com um ar de sisudo, exalando antipatia no município que carrega o questionável apelido de Cidade Simpatia.
De forma curiosa, além de se restringir a liberdade e desprestigiar o lazer, o bloqueio serviu para escancarar mais uma vez a falta de opções do Centro, que já não conta nem mais com cinema. Se a iniciativa privada e o poder público deixam o Centro com escassas opções, a própria população é freada em seu direito de explorar a região, que, além de tudo, é sua. Como medida inicial, positivo seria uma discussão maior da sociedade mogimiriana sobre o desequilíbrio dos direitos de lazer e diversão e sossego e ordem pública.