O retorno dos estudantes às escolas ainda é um assunto que causa polêmica. Uma dessas distopias causadas pela pandemia de Covid-19. Afinal, a presença das crianças na escola é algo indiscutivelmente importante. É vital que uma sociedade ofereça todas as condições para que haja 100% de matrículas, de presença, de frequência. E um ensino com qualidade não apenas para aqueles que podem pagar muito, mas também para aqueles que nada podem pagar, no sistema público.
O ponto é que ainda estamos em pandemia. Por mais que já estejamos até relaxados, aglomerando mesmo sem duas doses de vacina e, aos poucos, abrindo mão de hábitos como a higienização constante das mãos e o uso de máscara, a verdade é que a pandemia não acabou. E a falta de cobertura segura de imunização, induzida, inclusive, pelo negacionismo promovido por entes públicos, como o próprio líder da nação, contribui para que certas tomadas de decisão tenham mais cautela que o normal.
É por este motivo que a volta das crianças às creches ainda gera uma visão complexa e cuidadosa. Nós entendemos e respeitamos a clara necessidade de uma inúmera quantidade de pais que precisam que seus filhos voltem aos chamados Cempi’s (Centros de Educação Municipal da Primeira Infância).
Eles precisam trabalhar, ainda mais em um período em que o emprego é tão importante, principalmente aqueles que ainda resguardam direitos vitais para o proletariado. São estes trabalhos que garantem o sustento, inclusive, a estes bebês.
Por outro lado, é preciso compreender que os Cempi’s atendem um público com perfil bem diferentes das Emeb’s, que retornaram no dia 16 de agosto. Nas escolas municipais de educação básica, as aulas são para crianças de 4 a 17 anos. Uma faixa etária que já compreende muito bem certas orientações e, em tempos de pandemia, isso é ouro.
Os estudantes voltaram com uma lista enorme de protocolos à disposição, para serem protegidos e para protegerem o próximo. Precisam se higienizar, respeitar distâncias em filas, usar máscaras.
Situação complicada de se imaginar para bebês de poucas semanas até os 3 anos e 11 meses, faixa que compreende o atendimento nos Cempi’s. Os docentes precisam dar banho, pegar estas crianças no colo. E não é um público que esteja sendo vacinado, diferente da faixa etária de 12 a 17 anos, que começou a receber a imunização recentemente, por exemplo.
Compreendem a complexidade? Os Cempi’s precisam voltar também para que estas crianças cumpram um rito de interação social tão importante e para que tenham contato com uma base escolar que será vital para a sequência da vida acadêmica. Ainda assim, quem coordena a retomada, planejada para o dia 4 de outubro, em apenas quatro unidades, precisa dar passos cuidadosos devido à peculiaridade desta relação entre alunos e professores registrada nesta faixa etária.
Assim, o bom senso é sempre a melhor saída. E entre quem defende a volta imediata dos Cempi’s e um pouco mais de cautela, não há errados. Existe todo um cenário a ser avaliado e um objetivo: encontrar o denominador comum para uma retomada segura.