sábado, novembro 23, 2024
INICIALOpiniãoArtigosA culpa é das estrelas

A culpa é das estrelas

Dia desses estava tricotando com um grupo de amigas mães sobre como as adolescentes optam por mostrar cada vez mais o corpo. E este tema certamente daria um livro, mas não é disso que quero tratar aqui hoje. A questão é que uma delas soltou um “quando vocês verem a fulana na rua com tudo de fora, saiba que ela tem mãe sim, que eu ligo, que eu falei, mas que não adianta”.

Todas rimos, porque infelizmente é assim mesmo. Basta que nossos olhos vejam algo que não concordam, que uma das primeiras associações que fazemos é sobre a responsabilidade materna naquele caso.

Isso me faz pensar em duas questões. A primeira é que grande parte dos problemas que achamos que nossos filhos expõem ao mundo nos incomodam tanto porque retratam a nossa fragilidade num aspecto que acreditamos não estar tendo sucesso, como, por exemplo, as roupas, independente da enorme quantidade de tempo e energia que estejamos dispensando para isso. E eles capricham, parecem que fazem com gosto perto das pessoas que mais nos atingem rsrs!

A segunda questão é estrutural, visto que a sociedade, desde sempre, direcionou o cuidado e educação dos filhos como sendo, em maior parte, responsabilidade das mulheres, já que os homens eram quem saíam em busca do sustento. Mesmo essa configuração tendo mudado hoje, duvido que alguém já tenha visto uma criança vestindo regata num dia gelado e pensado “nossa, será que o pai dela não viu saindo assim?”.

Agora, criança chegou suja na escola? “Nossa, será que a mãe não viu”? Não fez lição? “Poxa, a mãe não olha a apostila”! Se envolveu com drogas? “Também, a mãe não estava nem aí para ele”! Lembro um dia que fui deixar as crianças na escola e um menino, com uns 3 anos, estava vestindo uniforme e sapato social. A hora que a mãe viu a professora, a primeira coisa que ela falou foi “eu tentei colocar tênis nele, mas não teve jeito”, como se precisasse se desculpar por aquilo.

A gente faz o que pode e mesmo que isso pareça pouco aos olhos de quem vê, é o nosso possível, seja pelas razões financeiras, seja pela capacidade psicológica ou física. E o pior é que, quem mais condena, é justamente quem tem telhado de vidro.

Falo com propriedade, é uma luta interna para mim dividir responsabilidades, não centralizar o mal que vejo no outro na conta da mãe dele. Então, sim, quando o absurdo te atingir, saiba que aquela criança tem mãe e a mesma que esquece o lanche da escola, também é a que merece mérito por ensinar a respeitar a professora. Que possamos aprender a direcionar nosso olhar.

RELATED ARTICLES
- Advertisment -

Most Popular

Recent Comments