quinta-feira, novembro 21, 2024
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A cultura descentralizada

Há tempos o Centro Cultural de Mogi Mirim deixou de ser uma referência na área da cultura na cidade. Apesar de ainda manter cursos de teatro, dança, música e artes plásticas, o espaço já não é tão aproveitado como antigamente, e dos tempos de sucesso que o local teve, restaram nas paredes do salão nobre os furos dos pregos que sustentavam obras de arte.

Desde o último mês, funcionários do setor de Obras da Prefeitura e os próprios servidores que atuam no Centro Cultural têm se empenhado em reformar parcialmente o prédio, com demãos de tinta nas paredes, restauração do piso de ardósia, troca dos tecidos das coxias, entre outros detalhes que mostravam a aparência sucateada do ambiente.

Talvez essa seja uma tentativa de voltar a atrair o público que já não frequenta mais os pontuais eventos realizados no local. O Bar dos Artistas não acontece mais, o Salão de Artes, que antes lotava o Salão Nobre, nos anos 1990, agora conta com poucos visitantes, e o teatro acaba sendo a área mais aproveitada, abrigando festivais de dança e teatro. Nem o Museu, que ostentava peças raras da Revolução Constitucionalista de 1932, está mais ativo.

Apesar dos ventos de saudade que sopram pelos cantos do Centro Cultural, há um lado positivo neste hiato. Artistas locais têm buscado outros pontos da cidade para fazer apresentações, descentralizando a cultura e levando as mais diversas atrações para os bairros, inclusive os de periferia, geralmente carentes de manifestações artísticas. Houve uma ocupação cultural na zona Leste, na qual todos que quisessem participar, sendo artistas ou não, poderiam compartilhar textos, pinturas, músicas, e o evento contou, inclusive, com oficinas. Um sarau tomou conta do Teatro de Arena, espaço destinado à arte que também estava esquecido. A cena cultural na cidade está movimentada a ponto de uma pessoa da área abrir sua própria casa para realizar encontros abertos ao público, reunindo músicos, poetas, literatura…

A realização destes tipos de evento em espaços abertos levanta outra questão, a da liberdade artística. Concursos e exposições formais do Centro Cultural restringem alguns tipos de manifestações artísticas como foco principal, e profissionais e amadores que não se enquadram nos padrões estabelecidos acabam não tendo espaço para mostrar seus trabalhos. Essas pessoas acabam encontrando nos saraus em outros espaços um ambiente no qual a arte é compartilhada nas suas mais diversas formas.

Talvez seja esse o momento de a Secretaria de Cultura repensar não só a estética do Centro Cultural, mas também a burocracia para o uso do espaço pelo público, afinal, a arte é para todos e a participação da população é bem vinda.

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