Por linhas retas e tortas, venho acompanhando a cena política há algumas décadas. Naturalmente que nem sempre muito próximo de onde as coisas acontecem, mas valendo-me dos recursos de comunicação disponíveis em cada época.
Não sei se necessariamente a qualidade da política e de seus agentes melhorou ou piorou desde lá atrás. É difícil sentenciar sem um exame de extremo rigor sobre as condutas, hábitos e procedimentos.
Que anda muito ruim na atualidade não me parece haver dúvida. Mas, acho que estamos no limiar de algo novo, que tem toda relação com o avanço das tecnologias disponíveis, as quais interferem de maneira profunda nas relações sociais e no processo de difusão de ideias e conceitos.
Estou me referindo à internet e aos desdobramentos que ela proporciona no campo da informação. E tudo rápido, muito rápido. Também é verdade que esse avanço extraordinário abre brechas para o desserviço da má informação e da ofensa à reputação em prática através da qual se espanca a ética.
Mas, atendo-me ao melhor das redes sociais, vejo-as como ferramenta capaz – talvez a única – de concorrer para o aprimoramento da qualidade da política e dos políticos.
Não só é possível hoje em dia expressar-se agilmente, de imediato e sem balizas, sobre os mais múltiplos temas, entre os quais a política, como isso possibilita que a flecha chegue ao alvo tão imediatamente. Não há mais como, portanto, o político dizer que não teve conhecimento desta ou daquela manifestação.
Lá em Brasília, por exemplo, é impossível que deputado, senador, ministro ou presidente não sintam as orelhas queimando. Vem se tornando cada vez mais difícil, senão impossível, ignorar o que os “brasileiros e brasileiras” estão pensando no aconchego de suas moradas, nos escritórios ou mesmo nas ruas, onde esses modernosos aparelhos permitem fazer de tudo.
Acho, para encaminhar o ponto central das minhas ideias, que crescentemente torna-se suicídio fazer acenos enganosos ao povo, na expectativa de que o tempo se encarregará de apagá-los da memória dos cidadãos.
Não dá mais. Fica cada vez mais difícil enganar, porque não há mais distância alguma entre Brasília e Picos, no extremo Piauí. O que se faz na Capital Federal chega aos mais remotos rincões em segundos. Do mesmo modo, a reação dos rincões chega ao Planalto em velocidade mais do que supersônica. Se falarmos em termos de cidade, então, é estalar de dedos, é piscar de olhos.
Tomando o contemporâneo como exemplo, como devem estar se sentido esses cidadãos envolvidos nos escândalos atuais, ao se verem exibidos a cada segundo nas redes sociais? Por mais que sejam cínicos, safados e desavergonhados, alguma sensação de desconforto devem sentir, ao menos ao trocarem olhares com seus filhos dentro de casa.
Doravante, é assim que vai acontecer. As más condutas não ficarão mais protegidas pelo manto da ignorância. A marcação vai ficar cada vez mais cerrada, mais próxima, mais aguda e mais cruel.
Penso e torço que isto possa fazer melhorar a qualidade da política e dos políticos. Não acredito que eles se esquecerão de que o povo está logo ali, capaz de linchá-los ao toque dos dedos, sem causar um hematoma ou fazer pingar uma gota de sangue, mas mesmo assim mortalmente.
Valter Abrucez é jornalista autodidata. Ocupa, atualmente, o cargo de Secretário de Comunicação Social na Prefeitura de Mogi Guaçu e escreve aos sábados em O POPULAR