Estudo e cultura acabam explorados de maneira mais limitada quando se alimentam restrições na expansão da mente a novas ideias e à pluralidade de caminhos. A resistência em compreender e aceitar o diferente tem o poder de levar à rota da intolerância, que provoca a tendência de se definir padrões de comportamento em que se repelem alterações nos metódicos roteiros traçados.
Algumas reações à matéria em que foi abordado o funk e o trabalho do funkeiro Mr. Motta escancararam a intolerância seja por um estilo musical, pela linguagem ou pela maneira de se buscar o sucesso com uma receita pouco admirada nos bancos universitários. Embora inevitável em princípio, a perplexidade não deveria ser gerada se fosse lembrado que a intolerância é latente na sociedade.
Assusta a intolerância no meio musical, em que a pluralidade deveria imperar. A música não deve ser um elemento engessado, de propósito único, mas sim algo dinâmico, repleto de facetas e capaz de ser explorada em diversas vertentes, incluindo a terapia. A música pode ser sinônimo de cultura de qualidade, com letras ricas, poesia, críticas sociais e reflexão. Pode ser expressão popular ou simplesmente ser usada como um meio de diversão livre, carregada de linguagem até mesmo das mais pobres possíveis. A falta de capacidade, cultura ou riqueza de vocabulário não pode impedir a criação, sob o risco de se criar uma ditadura onde a liberdade deveria prevalecer.
Cabe a cada um decidir o que escutar, sem imposições. A cultura, o aperfeiçoamento e os estudos são itens que todos deveriam buscar infinitamente, mas não podem ser elementos obrigatórios para o início de uma manifestação. É nefasta a arrogância exalada em pensamentos como a de que a expressão de alguém contamina o meio musical ou a carreira de outros, na linha de comentários prepotentes de que “isso é ou não é música”.
Uma arrogância que restringe espaços. Combater letras indesejáveis não é o melhor caminho para evoluir a educação de um país, especialmente se nas criações está a expressão de uma realidade, até porque serviria para inibir a criatividade e o direito de soltar a voz ao mundo. A música pode refletir o que existe e assim ajuda a escancarar até o que deve ser combatido.
Por outro lado, o reconhecimento a uma carreira deve ser conquistado, com a compreensão do gosto popular, do público alvo ou do mercado. Lutar contra a realidade ou exigir um reconhecimento é ineficaz, embora deva ser preservado o direito de todos clamarem pelo que desejam. O sucesso não apresenta uma receita pronta e não está necessariamente relacionado à justiça ou à qualidade. É positivo que o noticiário dê abertura a diversos estilos e personagens.
Criticar trabalhos é positivo para a democracia, mas é preciso ficar atento para não entrar na tortuosa rota da intolerância, que combina com ignorância. Entender a diversidade, não apenas de estilo musical e não somente no discurso dissimulado, é um passo importante para a evolução como indivíduo e da sociedade.