quarta-feira, setembro 18, 2024
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A falta de consciência negra nas escolas

No próximo domingo, dia 20 de novembro, se comemora mais uma vez o Dia da Consciência Negra. Vivemos em um país que desrespeita a história. Que ignora propositalmente os erros do passado e, por isso, passa a ser delicado falar sobre racismo, sobre escravidão e outros temas que margeiam a data a ser lembrada neste fim de semana.

O Brasil foi moldado por uma elite oriunda da Europa que se valeu dos corpos de escravizados negros e negras vindos da África e de nativos indígenas para ampliar sua condição de detentor do poder financeiro e político. De opressor! É desta desigualdade desumana estabelecida como principal projeto econômico do país que surgiu a atual desigualdade social.

E mesmo quando, após uma luta incessante de setores abolicionistas da sociedade, sobretudo de negros como José do Patrocínio, André Rebouças e Luís Gama, finalmente o Brasil se tornou a última nação a derrubar a escravidão, esta população continuou à margem. Não houve nenhum tipo de política pública para compensá-los pelos 300 anos de extração de seus reinos, de sequestros de filhos, pais, amigos; de vidas roubadas simplesmente para servir aos interesses de senhores.

Quando nos aproximamos de mais um Dia da Consciência Negra, precisamos cobrar de nossas autoridades que o passado não seja jogado e preso em uma senzala. É preciso quebrar as correntes que nos impedem de entender de onde viemos, para que possamos entender qual o caminho precisamos tomar. E o caminho é de luta por uma igualdade que nunca existiu, em um país da falsa democracia racial e que é sustentado, desde sempre, pelo racismo estrutural.

Qual é o percentual de ensino sobre a influência da cultura negra no currículo escolar dos estudantes mogimirianos? Por que se ensina sobre a Revolução Farroupilha mas não há quase nada sobre a Revolta dos Malês? E o que sabemos sobre a origem das vidas negras em nossa cidade? Sabem o que sobre os escravocratas? Sabem que um delegado mogimiriano foi morto por ser abolicionista e que seus assassinos conspiraram para mudar o nome de uma cidade vizinha pela repercussão que o crime ganhou em todo o país? E que o assassinato desse delegado, por mãos de norte-americanos derrotados na Guerra de Secessão é um dos estopins para a assinatura da Lei Áurea?

E o que nossas crianças aprendem a respeito, por exemplo, da representatividade negra no legislativo mogimiriano? Sabem que o percentual sempre esteve próximo a zero e que hoje a Câmara talvez seja uma das mais negras da história? E o que esta representatividade negra tem feito para ampliar o conhecimento dos mogimirianos sobre esta realidade?

É preciso encarar o passado sem nenhum tipo de constrangimento. Na Alemanha, o nazismo não é esquecido. Sentem tanta vergonha pelo que fizeram, que se cobram lembrando das atrocidades cometidas por seus antepassados na esperança de que nunca se repita algo tão desumano como foi o período de Adolf Hitler. Por aqui, temos a mania de varrer nossos erros para baixo do tapete, como as ditaduras e, principalmente, a escravidão. Não. Temos que dar luz aos fatos e nos libertar para, enfim, vivermos em um país com consciência do que fez com sua população negra.

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