domingo, janeiro 5, 2025
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A história de superação da mogimiriana Aline Navarro

Nascer de novo. A expressão pode cair no lugar comum para muitos, mas, para a mogimiriana Aline Navarro, é um fato. Cravada em seu corpo, através de uma tatuagem, que relembra a data em que ganhou uma nova chance de viver. Eternizada por uma enorme cicatriz que expõe também as dores causadas à mente e ao coração. Através do esporte, da sua paixão, a vida foi retomada.

Hoje com 26 anos, ela completa em breve três anos deste renascimento. Em 14 de janeiro de 2017, a atleta sofreu um grave acidente de moto. Estava no auge da forma física, vencendo corridas ao representar Mogi Mirim. E justamente em um dos locais mais marcantes para a prática da corrida na cidade, veio o choque. Em uma das esquinas do complexo esportivo do Lavapés, o Zerão, um HB20 colidiu contra a sua moto.

“Só lembro da hora em que vi o meu joelho com fratura exposta e comecei a gritar”. As lembranças são mínimas do momento fatídico. Os traumas enormes. Ela havia comprado a moto dias antes, após perder o emprego em um supermercado da cidade. Estava na corrida pelo sonho do profissionalismo no atletismo e também por uma nova vaga imediata no mercado de trabalho.

Em segundos, a meta passou a ser voltar a andar. Aline sofreu uma fratura em várias partes do joelho e a equipe médica tentou recuperar o que sobrou dos ossos. Os pedaços da sua ferramenta de trabalho. O sonho estava fragmentado. “Fiquei uma semana internada, pois não podia me locomover. Tinha que tomar banho na cama, para fazer necessidade também não podia me levantar e comer também. Depois tive alta e fiquei dois meses de cama em casa”.

Para quem estava acostumada desde criança a praticar esportes, tudo aquilo era um baque enorme. Aline beirou a depressão e se apegou à fé para desafiar o diagnóstico médico. Ela recebeu a mensagem de que jamais poderia voltar a correr. “Foi muito difícil para superar esse trauma. Tanto físico como psicológico. Eu até comecei a achar que seria impossível mesmo voltar a correr, porque nem andar eu conseguia direito”.

Além da fé, os aprendizados do esporte a ajudaram. Em 2010, ainda adolescente, foi ‘achada’ por Sônia Mazon. Deixou o futebol e conheceu o atletismo. A persistência a levou às vitórias nas ruas. E também foi a chave para o retorno. Em abril de 2017, fez a segunda cirurgia e retirou os ferros na perna. Recebeu o apoio de familiares e amigos, como o vereador Marcos Gaúcho, que conseguiu uma muleta e a cadeira de rodas para tomar banho.

Era ainda a fase de reaprender a sentar. E caminhar poucos metros. O que era simples para a mulher que desafiava quilômetros se tornou um desafio gigantesco. Veio um novo passo, a fisioterapia. Daniella Dalben foi a responsável pelo trabalho de recuperação. E até motivação. “Quando eu contei para a fisioterapeuta que eu era uma corredora de Mogi Mirim ela disse que eu iria voltar a correr e que faria tudo para me ajudar”.

Mas, não era um processo rápido. Aline precisava reaprender a andar. Em meio ao tratamento, uma nova cirurgia, desta vez para a retirada da prótese da perna, que estava atrofiada. Na insistência, reaprendeu a andar sem muletas. Depois, a dobrar a perna. Começou a pedalar, um movimento que o corpo também havia esquecido.

Foi então que veio a etapa mais emocionante. Começou a correr, bem devagarzinho, na esteira. “Eu até chorei e abracei a minha fisioterapeuta. Dentro de um mês eu aprendi a correr na esteira. Não com a força e velocidade de antes, mas eu conseguia correr sem parar”, frisou. Foi uma vitória. É claro que, como atleta amadora, o trajeto tinha obstáculos particulares.

Precisava voltar a trabalhar para se manter e com isso as sessões não foram mantidas de forma adequada. O tempo foi mais longo do que o normal. Mas, em agosto de 2017, ela voltou a sentir o prazer de correr em uma rua. Com o incentivo da fisioterapeuta, se inscreveu em uma corrida organizada em Mogi. E, claro, não foi nada bem. “Eu via adversárias, que antes eu vencia, me ultrapassando com facilidade. Aquilo mexeu muito comigo. Eu comecei a pensar que a versão do médico era mesmo a final. Eu não iria conseguir voltar a correr de verdade”.

Mas, a paixão pelo esporte falou mais alto. Procurou o treinador, José Maria Heraldo da Silva, da Secretaria de Esporte Juventude e Lazer (Sejel). Uma figura que sempre foi muito mais que um técnico. “Ele sempre me motivou a correr e se preocupou comigo. Seja quando eu era uma das melhores de Mogi Mirim ou quando eu fiquei parada. Eu o considero como meu pai”.

Grata a tantos nomes que a ajudaram neste período, a atleta ressalta também a importância do seu professor. “Sem o acompanhamento dele eu não teria chegado a resultados tão incríveis na minha vida. Cada pódio e troféu que estão guardados em casa e na minha memória eu devo a ele”, ressaltou. Neste ano, Aline voltou. Primeiro em uma corrida em Estiva Gerbi, em março. O desempenho não foi tão bom. Mas, seguiu firme. Conciliou treinos e trabalho até que chegou um novo momento chave em sua vida. Aceitou o convite de José Heraldo para disputar a Maratona Internacional do Rio de Janeiro.

No dia 18 de agosto, praticamente dois anos e sete meses após o acidente, ela estava entre milhares de brasileiros. E, contra todos os prognósticos, voltou a brilhar como nos bons tempos. Foi a segunda colocada na sua categoria, com atletas de 25 a 29 anos. Entre 15 mil corredores, ela estava no alto mais uma vez. Aline conseguiu uma real demonstração de força da fé e do esporte. Além da própria, claro. Hoje, a mogimiriana quer seguir vencendo as etapas. Ela reconhece que há ainda muito o que melhorar no aspecto físico e até técnico. Porém, Aline está renascida. Pronta para ser mais do que a atleta profissional que sempre sonhou. Ela, agora, é um exemplo de superação. Na corrida da vida, a mogimiriana tem um lugar cativo no pódio.

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