Prosseguindo esta série, abordarei os antigos e famosos programas de auditório, que marcaram época na Rádio Cultura de Mogi Mirim e Rádio Nacional do Rio de Janeiro.
Os programas de auditório incentivaram a criação dos fã-clubes, constituídos de mocinhas que tinham dois sonhos: de ascensão social e de estar próximo ao ídolo musical – cantores, cantoras e artistas teatrais, enfrentando filas, disputando ingressos e o medo de perder lugar no auditório. Depois, gritar a plenos pulmões o nome de seu ídolo, refletindo a alegria de vê-lo de perto, no palco.
O primeiro programa de auditório
No dia 5 de agosto de 1938, pela Rádio Nacional, foi criado o primeiro programa de auditório no Brasil, ideia do radialista Almirante e com o nome de Caixa de Perguntas, com participação direta da plateia e distribuindo prêmios de até 30 mil réis pagos na hora aos acertadores. Sessenta anos depois, Silvio Santos imitou esse programa com o “Topa Tudo por Dinheiro”.
Depois de “Caixa de Perguntas”, vieram os programas de auditório Manoel Barcelos, Paulo Gracindo e o mais famoso de todos: o “Programa Cesár de Alencar”, mistura de espetáculo teatral, musical, circo, variedades, sorteio de prêmios e duração média de quatro horas. As mocinhas fãzocas gritavam, batiam palmas, vertiam lágrimas, desmaiavam e diziam para seus ídolos: “é o maior”, “é o mais querido”. Cauby Peixoto, Marlene e Emilinha Borba foram os mais queridos das chamadas “macacas de auditório”. No auge dessas manifestações, cantores como Cauby tiveram roupas rasgadas pelas fãs fanáticas!
Segundo os dicionários, “macaca de auditório” é definida como “mulher entusiasta de cantores de rádio ou televisão e que frequenta programas de auditório”. O radialista Miguel Gustavo criou uma quadrinha: “Ela é fã da Emilinha e do Cauby, não sai do programa César de Alencar, depois de muito gritar, no auge do entusiasmo, chega até a desmaiar!”.
A inauguração do grande auditório da Rádio Nacional foi em 1942. Possuía cerca de 500 lugares e com ele teve início a era de ouro da emissora, com a presença maciça do povo e que passou a influenciar na programação geral da emissora.
O programa César de Alencar tinha quatro horas de duração, com sua abertura cantada pelo Conjunto Musical 4 Ases e um Coringa e começava assim: “Prepare a mão, palmas, bate outra vez, palmas, este programa pertence a vocês…”. E depois, César de Alencar anunciava: “Alô, alô, amigos. Estamos iniciando mais um programa César de Alencar. Que o programa de hoje seja do inteiro agrado de todos vocês!”.
O programa dividia-se em quadros, com músicas, concursos, prêmios e atrações divertidas. No quadro “Na corte da princesa”, a atração principal era Romário, o Homem Dicionário, que conhecia todas as palavras da Língua-Portuguesa e seus significados; o “Sucesso de amanhã”, onde cantores e cantoras apresentavam canções que seriam gravadas futuramente; “Parada dos Maiorais”, com os últimos sucessos musicais; “o Cartaz da Semana”, com a maior estrela do programa César de Alencar: Emilinha Borba.
César de Alencar, cujo verdadeiro nome era Hermelino Cesar de Alencar Matos, nasceu em Fortaleza, Ceará, em 6 de junho de 1917, e faleceu no Rio de Janeiro, em 14 de janeiro de 1990, com 73 anos de idade.
Outros programas de auditório da Rádio Nacional: “Aí vem o pato”, “A felicidade bate a sua porta”, “Domingo Alegre”, “Papel Carbono”, “Placar Musical”, “Este mundo é uma bola”, “Nas asas das canções” e muitos outros. Mas nenhum suplantou o “Programa César de Alencar”.
Legenda da Foto
Os antigos programas de auditório eram incrivelmente animados, com fã-clubes e centenas de moças, denominadas de “macacas de auditório”, gritando o nome de seus ídolos em tons ensurdecedores e demonstrando paixão tresloucada pelos cantores, cantoras e artistas, nos anos cinquenta e sessenta. Foi a época de ouro do rádio, querido e venerado pelos ouvintes!