Fez-se uma campanha em 2014, como tantas outras foram feitas no correr da história, para apresentar aos brasileiros as ideias daqueles que pretendiam governar o país.
Em tese, venceu a proposta de Dilma Rousseff, traduzida pela carga pesada da munição do publicitário João Santana. Ele fez milhões de eleitores acreditarem na conversa da então já presidente, em busca do bicampeonato.
Dilma tomou posse com toda a pompa e a circunstância que sempre cercam estes acontecimentos, repletos da mais pura falsidade. É a mistura de gente de toda origem, com pensamentos divergentes ou sem pensamento algum, apenas preparando o beiço para grudar nas tetas do poder.
“De modos que” (aproprio aqui a frase recorrente na boca de um amigo) tudo que aconteceu no dia de inauguração do ano foi inútil, desnecessário, perda de tempo.
Acho mesmo que desse negócio de posse de presidente deveria ser enxugado, simplificado. Assina logo lá o que tem que assinar e dispensa essa gastança de dinheiro em passagens de avião e rega-bofe para famintos e aproveitadores.
Pois bem. Qual é o grande momento da posse? Não é a posse. É o discurso. Mas, discurso não é para qualquer um. Aliás, penso que discurso deveria mesmo ser uma coisa muito rigorosamente seletiva. Nesta longa estrada da vida, aprendi (e ouvi) que em cada 10 discursos, 9,99 não valem nada. São uma porcaria. Amontoados de palavras, às vezes até sem nexo algum.
De qualquer forma, o ritual exige o discurso do empossado. No caso, da empossada. Tem que fazer para cumprir as formalidades. Não ouvi e não gostei (como disse Adhemar de Barros a um puxa-saco que não se cansava de lhe mandar cartas e perguntava se as tinha lido).
Ouvir ou não ouvir, gostar ou não gostar, não faz diferença, porque não terá importância alguma o que foi dito – e em geral dito para mandar recados e aplacar iras. O que o governo pretende fazer já está traçado. Por sinal, já começou a fazer, ao mexer em regras de seguro-desemprego e outros que tais. Aí sim, eu ouvi a vaca tossir.
Voltando ao discurso, depois de amanhã não vai ser lembrado mais por ninguém mesmo. E o que é fundamental: não vai servir para balizar ação alguma, direção qualquer. Será, para a posteridade, mais uma peça literária a mofar nas estantes de alguma biblioteca oficial.
O fato é o seguinte: prosopopeias à parte, caviar degustado, champanhe sorvido, agora é a hora da verdade, de por o trem nos trilhos, de grudar no cabo da enxada, porque os tempos estão bravios. Estão nada simpáticos. Em resumo, chegou a hora de a onça beber água. E de cuidar bem da saúde da vaca para ela não voltar a tossir de novo.
Valter Abrucez é jornalista autodidata. Ocupa, atualmente, o cargo de Secretário de Comunicação Social na Prefeitura de Mogi Guaçu e escreve aos sábados em O POPULAR.