Certa vez, não lembro bem quantos anos a Gabi e o Neto estavam completando, fomos comemorar num hotel fazenda. Chegando lá a programação era “tirolesa noturna”. Perguntei sobre a idade que podia participar, pesaram as crianças e, tudo certo. O Alisson não gosta de altura, ponto final. Na hora marcada estávamos lá, nos reunimos com o grupo e subimos a pé por uns 15 minutos, mas uma subida tão, tão, tão íngreme que doía.
Quando chegamos, começamos a colocar os equipamentos e o guia perguntou quem seria o primeiro a ir. O Neto, todo animadão, já soltou um “eu”. O moço olhou para ele e respondeu que seria melhor ir um adulto primeiro para que ele não ficasse sozinho “lá”. Como sou a mãe, na mesma hora levantei a mãozinha e disse “eu vou”.
Assim o fiz, me amarrei à corda, olhei para o profissional, perguntei o que deveria fazer e ele respondeu um “só segura aqui e pula. Pula? Isso, só pula”. Beleza, assim o fiz!
Não sei porque diabos, tinha armazenado neste cérebro louco a definição de tirolesa como sendo “aquela cordinha que você escorrega sobre o rio, molhando as pontas dos pés”. Só que não!
A que estávamos tem como diferencial e campanha de marketing estar entre as mais altas e longas do Brasil. Entenderam? Eu pulei de um negócio na ignorância, só na confiança de que eu sabia o que eu não sabia kkkk.
Enquanto escorregava por aqueles fios, via as árvores bem pequenas lá embaixo, só conseguia rir da minha pureza e pensar que, se caísse dali seria uma morte bem rápida e que, caso tivesse um imprevisto e o negócio enroscasse, demoraria demais até o socorro chegar, teria que ter muito alto controle para esperar sem me desesperar e que, sem dúvidas, seria um grande evento.
Quando atingi o outro lado, a primeira atitude foi dizer para o profissional que me esperava lá para passar um rádio, dizendo para não deixar as crianças pularem. Tarde demais, já dava para ouvir o som do Neto chegando.
Essa história é ainda bem mais longa e engraçada, mas vou parar por aqui pelo limite de linhas. Talvez outro dia continue. A questão é que minutos depois quando chegamos ao restaurante para jantar, erámos o assunto: a família corajosa. Todo mundo se alegrava em comentar o fato de termos ido, do quanto éramos corajosos e aventureiros, tanto por permitir que duas crianças pequenas vivessem aquilo como por pular…enfim, eu ria sem parar.
O que ninguém imaginava é que se eu tivesse as informações certas, nada daquilo teria acontecido. De caso pensado, eu não teria ido e jamais deixaria que eles fossem. E por isso acho tão importante ser blindada pela ignorância às vezes. Podia ter dado errado, até podia, mas não deu. E, além de ser emocionante voar àquela altura, isso tudo foi direto para o baú de memórias.
A moral da história de número dois é que: a grama do vizinho é sempre mais verdinha. Precisamos ter cuidado ao olhar para o lado e nos comparar. O que achavam ser coragem, descolamento, era na verdade ignorância pura. Limite-se sempre, a olhar para dentro, para que encontre seus significados e coisas que é capaz de lidar. Mas tente fazer o suficiente para que não perca a oportunidade de, às vezes, ser surpreendido pelo novo, pela leveza e ingenuidade da primeira vez.