A adaptação de discursos de acordo com a situação e os interesses é uma artimanha muito utilizada por políticos e líderes populares, muitas vezes impregnada pela demagogia. Para convencer o público de acordo com os interesses, um dos recursos é utilizar sofismas, argumentos fabricados para produzir ilusão. É preciso cautela nas mensagens passadas ao público para não se correr o risco de cometer incoerências. Quando se utiliza argumentos baseados no interesse imediato de convencimento, se corre o risco de cair em contradição e expor futuramente uma incoerência capaz de colocar a credibilidade em xeque.
Parte do primeiro discurso como presidente do Mogi Mirim de Luiz Henrique Oliveira passa uma impressão, que pode se mostrar equivocada no futuro, de que as palavras são ditas mais por interesse de convencer o público do que propriamente por ideologia. As respostas ao falar da importância do torcedor e sobre detalhes da situação do clube sinalizam uma contradição. Ao mesmo tempo em que se recusa a agir com transparência e responder aos principais questionamentos dos jornalistas, criando obstáculos para as informações chegarem ao público, por outro diz precisar do apoio da comunidade.
Em um primeiro momento, quando questionado se o Mogi ainda deve a Rivaldo e sobre o destino dos CTs do clube, dúvida muito constante em torcedores, Oliveira adotou um discurso antipático. Disse que as informações eram de domínio público, que nada de ilegal seria feito, mas não respondeu de forma direta, se esquivando. O fato de não responder parece baseado no pensamento de dirigentes de que o clube é particular e, assim, não há obrigação de se esclarecer detalhes. Em outro momento, Luiz falou da importância de ter a torcida apoiando e que não faria nada sem o torcedor. Disse que queria deixar o legado de ter o torcedor ao lado do clube e que o Mogi não tinha dono, pois era algo subjetivo, da cidade.
Um discurso confronta com o outro. Se deseja ter o torcedor ao lado e entende que o clube é da cidade, o mínimo que poderia fazer de início era dar uma satisfação clara e transparente sobre o momento do Mogi. Se discursa que o Mogi é da cidade, deveria revelar sem subterfúgios se o clube ainda tem alguma dívida com Rivaldo, como foi a transação para assumir o controle da agremiação e se os CTs continuam sob posse do jogador. Agindo com transparência, poderia se diferenciar da gestão passada, não tratando o clube como um mundo fechado, mas sim o abrindo de forma integral na apresentação das informações.
O novo presidente entende que a torcida quer um time aguerrido, bem em campo. Mas a comunidade também se interessa pelo extra-campo. Diz também que quer atrair bilheteria com eventos. Se aspira o apoio do torcedor, deve começar tratando a torcida com o devido respeito e não apenas como um número capaz de gerar receita. O discurso de que o Mogi é da cidade e precisa do torcedor deve ter abrangência ampla e não funcionar de forma oportunista.