Semana passada disse aqui que, quando nasce um filho, nasce também uma mãe. Esqueci de acrescentar que quando nasce uma mãe, nasce também uma culpa. No dicionário, culpa quer dizer “responsabilidade por dano, mal, desastre causado a outrem”.
Eu sou uma pessoa bem prática e isso às vezes atrapalha muito, principalmente quando a forma de amar das outras pessoas é diferente da sua. Exemplificando, nunca consegui aplaudir as notas altas no boletim. Primeiro, porque acho que isso não fará diferença para a relação de sucesso com a vida, que é muito mais complexa do que apenas uma medição de desempenho. Em segundo lugar, aqui dentro da minha cabecinha, o que passa é que eles têm todos os recursos necessários para viver aquilo da melhor forma. Para mim, não beira superação.
Não faz a menor diferença para chegar até a escola se o dia está quente, frio, chuvoso ou ensolarado. O uniforme está sempre limpo e cheiroso, a barriga está sempre alimentada, o emocional sem grandes oscilações graças a um lar comum. Praticam esporte e vivem bons momentos de lazer. Pensaria diferente se houvesse alguma dificuldade de aprendizado, mas felizmente, também não há.
Meu senso prático vê exatamente desta forma. Não quer dizer que eu não fique feliz com as conquistas, mas, também, não consigo trocar uma nota 10 por presentes. Isso também não significa que eu seja ingrata, muito pelo contrário, esse coração pulsa a todo momento em agradecimento a Deus e à vida.
Nem de perto acho que essa é a melhor forma de viver. Acredito verdadeiramente que existam outras muito mais leves. Mas, por hora, é a que eu consigo, talvez até pelas necessidades da vida: fingir que dou conta das coisas para que elas funcionem.
Estou no processo, todos os dias acordo um pouco mais disposta a colocar mais sentimento em tudo que eu faço. Só torço para que meus filhos possam tirar coisas boas disso tudo, que eles guardem os benefícios de viver com praticidade, mas que não os corrompa ao ponto de se encantar com os detalhes que dão sabor a vida.