sábado, novembro 23, 2024
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A mentira: um espelho e uma arma

Dom Pedro Paulo Teixeira Roque

Cada ser que existe se mostra em atos, comportamentos e atitudes. Cada ser só pode oferecer o que é próprio de sua natureza, afinal, ninguém dá o que não tem. No entanto, há pessoas que insistem em “dar” o que não possuem, que falam o que não é a verdade, que criam realidades que não existem. A isso, damos o nome de mentira que, nesse caso, reflete-se no espelho da vida revelando o ser que a projetou!

A palavra mentir, mentionica, do latim tardio do século XI, por sua vez originária do baixo latim mentire, remetendo ao latim clássico mendacium, é termo ligado à palavra mens, que significa mente. A palavra mens está na raiz da mentira. Mens significa mente, inteligência, discernimento, o que poderia nos fazer concluir que a pessoa que mente precisa envolver o intelecto, a mente racional, aplicando-a na invenção de algo que não existe. Há ainda um significado especial para mens: intenção.

Ou seja, para se criar uma mentira é necessário ter a intenção de criá-la, planejá-la para um fim. A verdadeira mentira jamais acontece por inadvertência ou em nome de boas intenções. É fruto de uma vontade empenhada em enganar. Nesse caso, a mentira é uma arma poderosa. Não existem dúvidas de que Deus odeia a mentira, porque ela afasta o ser de sua finalidade: a verdade.

Vemos na Bíblia que quando Deus criou o mundo, a serpente – personificação do diabo – usou de mentira para enganar a Eva e convencê-la a comer o fruto proibido. A finalidade da mentira é iludir. A mentira sempre é construída enquanto a verdade é estabelecida. Quer se queira ou não, a mentira, grande ou pequena, sempre causa divisões: ela foi usada pelo maligno para separar o ser humano de Deus. Aliás, a palavra mentira, segundo alguns estudiosos, também remonta ao significado de defeito.

A mentira é um defeito porque ela tem um grande potencial de destruição de relações: das pessoas entre si e das pessoas para com Deus. Quando Jesus nos diz, em João 14, 6 que ele é o “caminho, a verdade e a vida” podemos entender que ele é a perfeição e a totalidade de Deus conosco. Ele é santo, ou seja, não há nele vestígio de pecado e iniquidade. Por isso, Deus não tolera a mentira. Como exercício de espiritualidade para esta semana, queiramos nos esforçar para construirmos nossa totalidade através da experiência com a verdade!

Dom Pedro Paulo Teixeira Roque é Bispo Coadjutor de Jundiaí, SP – ICAB. E-mail: [email protected]/tel. 19 – 9.9996-0607

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