sexta-feira, novembro 22, 2024
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A mistura de memórias e gratidão

Não gosto de personalizar os registros de memória aqui neste espaço que, com muita honra, escrevo quinzenalmente aos amigos de O POPULAR. Porém, nos últimos dias, algumas lembranças vieram com força e me sinto com uma enorme necessidade de materializá-las em forma de texto.

Em um de meus deslocamentos ao trabalho, na rodovia que liga Itapira a Mogi Mirim e que carrega o nome de alguém tão importante, que nos deixou há pouco tempo, como o Padre Paiva, me peguei a observar os raros eucaliptos que sobraram às margens da via. Imediatamente fui conduzido a 2 de março de 1997.

Naquele dia eu ocupava o banco traseiro do carro conduzido por um grande amigo que perdi em 2020. Léo Santos, jornalista, radialista e fotógrafo de alto gabarito seguia para mais um dia de trabalho, no estádio então chamado de Wilson Fernandes de Barros. Ao lado dele, meu amado pai, José Maria Valério.

Ambos se responsabilizaram por um dia de imensa alegria para aquele garoto de 10 anos. Pela primeira vez eu assistiria uma partida profissional de futebol in loco. Mesmo santista, Léo promoveu o momento.

Enquanto ele atuava por uma das rádios da cidade, na beira do campo, eu e meu pai, da arquibancada, vimos um grande jogo. Aristzábal marcou para o São Paulo e Lélis fez o gol do Mogi Mirim. Juro que minha memória sempre me traiu. Achava que o gol tricolor era de Dodô e do Sapão, de Paulão.
Pouco importa. Lembro bem demais da emoção de ver Rogério Ceni, recém-emergido como bom batedor de faltas, cobrar um tiro livre, errar e retornar exausto à sua meta. Vi um Mogi Mirim Esporte Clube forte.

Naquele dia, Oswaldo Alvarez, que também nos deixou e que sempre foi muito atencioso nas entrevistas a mim concedidas, escalou o Sapão com Marcos Garça; Paulão, Marcelo Batatais, Luís Cláudio (Leto); Rodrigo, Marcelo Lopes, Wellington, Luís Mário e Lélis; Samuel e Marcão. Já o São Paulo, de Muricy Ramalho, atuou com Rogério Ceni; Alberto Valentim, Válber, Bordon e Serginho; Axel, Nem (Belletti) e Luís Carlos; Dodô (França), Aristizábal e Marques.

Léo Santos foi o responsável por me conduzir à carreira de jornalista. Sou muito grato a ele e tanta e tanta gente que me abriram portas nas tantas cidades que pude trabalhar. Mas, Léo, tem um espaço especial no coração. Foi ele quem registrou minha primeira foto, com um mês.

As fotos do meu batizado, primeira comunhão, crisma, formaturas, desfiles. Me presenteou com a primeira bola de futebol, insistindo que eu torcesse para o Santos. Isso não deu certo. Mas, foi ele quem me indicou aos jornais Gazeta Itapirense e A Comarca, meus primeiros empregos no mundo impresso e na Rádio Clube, um sonho de criança. O sonho dele sempre foi me ver aqui, escrevendo para O POPULAR, onde ele trabalhava quando eu me formei em jornalismo.

Por pouco tempo ele pode ver isso ocorrer e, de onde estiver, sei que, ao lado de outras pessoas que tanto estimo, norteia meu caminho. Obrigado por aquela tarde de domingo, Léo. Obrigado por me ajudar a amar tanto assim o esporte e a valorizar este sentimento tão gostoso que é gratidão.

Destas oportunidades criadas por ele, tive a honra de conhecer amigos deste meio tão especial e que hoje estão com ele, no céu. Danilo Barros e Hugo Stort, que tanto amaram um dos meus amores, o Mogi Mirim Esporte Clube. Carlão Correa, que também muito amou o Sapão, mas também o Amador, assim como o Resenha, o Shrek e o Tonico. E do jornalismo, como o mestre Valter Abrucez. E tantos outros. Tantos.

Não sei vocês. Mas é tão insano materializar memórias em forma de texto. Escrever com lágrimas escorrendo pelo rosto a cada lembrança. Soluçando por não poder mais vê-los e, ao mesmo tempo, se sentindo capaz de eternizá-los. E de expor algo que parece tão simples, mas que deveríamos fazer mais vezes. E em vida. Dizer em alto e bom som: MUITO OBRIGADO!

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