Como legisladores, cidadãos que carregam a responsabilidade de definir leis, os vereadores deveriam ser figuras nobres merecedoras da reverência da sociedade e selecionadas para exercer acima de tudo a arte da reflexão. Antes de redigir projetos, aprovar ou rejeitar matérias, os vereadores deveriam deixar a mente fluir, se debruçar em pensamentos e estudar minuciosamente. Além do raciocínio, dominar a história e se abastecer de informações com a legislação de Mogi Mirim e outros municípios onde encontrem paralelos são fatores positivos para o alicerce da função.
Em seguida aos pensamentos individualizados, no caso de Mogi Mirim, de 17 nobres mentes pensantes ao menos na teoria, os legisladores poderiam, enfim, debater, apresentando os argumentos apurados no período dedicado à reflexão. Como se tratam de 17, seria natural uma série de alternativas para cada caso, com ramificações. Após argumentos e contra-argumentações, poderiam voltar ao essencial exercício: pensar para digerir o que foi apresentado e refletir se mantêm a posição, livres de apego ao ideal anterior.
Ouvir o posicionamento de seus representados, munícipes e eleitores, ampliando o campo de visão é outro ato positivo para posterior nova reflexão. A decisão das leis de forma alguma poderia ser no atropelo, com pressa. Legislar não deixa de ser um ato que envolve filosofia, o que pressupõe raciocínio equilibrado.
Em Mogi Mirim, como na maioria das cidades, esse cenário é utópico e o pensamento parece substituído pela adesão ou rejeição ao poder executivo. A conversa com o prefeito no caso dos situacionistas muitas vezes substitui o cérebro.
Um dos casos mais absurdos foi a aprovação dos projetos autorizando o poder executivo a celebrar contratos de parceria com a iniciativa privada para terceirização de serviços públicos, realizados pelo Serviço Autônomo de Água e Esgoto (Saae) e pela Prefeitura. Apresentar posição favorável ou contrária se torna um desafio diante da falta de debate de um tema tão sério. A população foi alijada do processo. Não se realizou nem uma série de audiências públicas para se esmiuçar os projetos, como no governo Carlos Nelson no período de discussão do polêmico tratamento de esgoto.
O equilíbrio na votação com placares apertados na segunda-feira espelha a necessidade de mais reflexão. Não aceitar o pedido de adiamento por 10 dias do vereador Luiz Guarnieri foi um repugnante ato de desrespeito. Nove vereadores negaram o direito do estudo, alguns talvez porque nunca se tenham dado o trabalho de pensar genuinamente. O exercício cerebral parece artigo raro na casa de leis, onde a arte do pensar deveria ser uma óbvia norma