sábado, novembro 23, 2024
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A onda do meio da pirâmide

Gaudêncio Torquato*

O clima eleitoral estará mais elevado nos próximos meses, mesmo que as aflições sociais com a pandemia se estendam até o fim do ano e continuem a influir na agenda política de 2022. A inferência se faz oportuna: o coronavírus será o grande eleitor em outubro do próximo ano. E mais: servirá para elevar o tom da tuba de ressonância que se formará nos próximos tempos, adensando o fenômeno social que vimos por ocasião da polarização entre Bolsonaro e o PT, em 2018.

Em 2022, a polarização voltará a se repetir? Lembrando que, em política, tudo é possível. Uma análise sobre a realidade: o governo Bolsonaro não tem entregue o que prometeu. A mudança política, conceito inspirador de todos os governos, não se realizou. O acordo com o Centrão lembra o mesmo tipo de compromisso de administrações passadas. O presidente, em vez de moderar e modular sua linguagem e adotar uma postura de equilíbrio e harmonia, é fator de permanente tensão. Parece governar apenas para a sua base.

Ora, no vácuo que se reabre no meio social, os mais espertos sobem aos palanques com o velho-novo discurso da esperança. Lula, o metalúrgico, de réu se transforma em vítima. E ganha alta visibilidade, mostrando-se (quem diria!) a voz do bom senso. Tudo voltará à estaca zero em matéria de seus processos, mas a impressão que perpassa na sociedade é a de que Lula é inocente, vitimizado pelo ódio do ex-juiz Sérgio Moro a ele. Mas o rio não correrá em sua direção como em 2002 e 2006. Hoje, mesmo o STF imprimindo a marca de suspeito em Sérgio Moro, será complicado para Lula vestir o manto de candidato. As águas são outras.

Percorre os estratos da pirâmide social um sopro que varre o déjà vu, a sensação de coisa dita e repetida, os velhos e novos escândalos, antigas promessas embaladas no celofane da mentira, refrãos e slogans batidos. Portanto, como em 2018, constata-se intensa indignação.

Portanto, lulopetismo e bolsonarismo serão cara e coroa de uma moeda que perde valor. O nível de consciência crítica subiu alguns centímetros. Classes médias (B e C) formarão um remoinho com força para mover as águas das margens. Os núcleos organizados – a miríade de organizações não governamentais, principalmente as de profissionais liberais (médicos, advogados, economistas, engenheiros, enfim, os integrantes das forças produtivas), atuarão na linha de frente, construindo uma gigantesca fortaleza, de onde emergirão inputs e ecos do pensamento social.

Essa é a razão que nos leva a enxergar um ponto no meio do arco ideológico capaz de aglutinar a vontade da maioria.

*Gaudêncio Torquato é jornalista, escritor e consultor político

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