sexta-feira, abril 18, 2025
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A raposa e o porco-espinho

Tudo começou com um fragmento de Arquíloco (680/645 A.C), poeta grego que na antiguidade era comparado ao clássico Homero. Arquíloco disse em um dos seus poemas:

Qual seria o sentido desse verso? Arquíloco não explica, mas o fragmento motivou o aparecimento de ensaios e fábulas.

Isaiah Berlin (1909/1927) escreveu The Hedgehog and the Fox em que classifica escritores e pensadores em duas categorias: raposas e porcos-espinhos. Os porcos-espinhos enxergam no mundo, através de uma lente, uma ideia simples, mas definitiva, como Marx, Adam Smith, Freud, Darwin. Os raposas são os que se dedicam a uma grande variedade de experiências sem se deterem numa ideia só, como Heródoto, Goethe, Shakespeare.

Ronald Dworkin, (1931/2013) em seu livro Justice For Hedgehogs estuda a tese filosófica sobre a unidade do valor – o valor é um só – no sentido de que os valores éticos e morais dependem uns dos outros e a responsabilidade intelectual diante dos valores é em si, um valor muito importante, lembrando o fragmento de Arquíloco.

Shopenhauer (Arthur1788/1860), escrevendo sobre a dificuldade da convivência social propôs a seguinte fábula: em época remota do planeta houve um grande fenômeno glacial que estava dizimando os animais. Não sabendo como se protegerem do frio intenso os porcos-espinhos decidiram ficar juntos uns dos outros para se aquecerem. Mas houve um problema: eles se aqueciam na troca de calor, mas feriam-se uns aos outros com seus espinhos. Então, desistiram e se afastaram machucados e magoados.

Porém, o frio glacial continuava intenso a castigar os porcos-espinhos e como não tinham proteção contra o rigoroso inverno, morriam congelados. Os que restaram, então, decidiram, novamente, juntarem-se, mas agora a uma distância que não fosse tão próxima dos espinhos, porém, suficientemente próxima para a troca de calor. E, assim, os porcos-espinhos, aprendendo a lição, descobriram a distância ideal para ficarem juntos e sobreviverem ao frio.

A fábula traz o ensinamento de que no convívio social as pessoas precisam descobrir a distância ideal para não ferir nem serem feridas. Essa distância ideal é o respeito e a compreensão de que temos virtudes e imperfeições. O homem é um animal gregário. Não foi concebido para viver isolado, mas a convivência social é um aprendizado como mostra a sabedoria dos porcos-espinhos. Shopenhauer explica: Cultivar um sentimento de proximidade e calor humano compassivo pelo outro, automaticamente coloca nossa mente num estado de paz. Isso ajuda a remover quaisquer medos, preocupações e inseguranças que possamos ter, e nos dá muita força para lutar com qualquer obstáculo que encontremos. Esta é a causa  mais poderosa de sucesso na vida.”

Outra fábula coloca o porco-espinho, aparentemente privado de inteligência desafiando a sagaz raposa. Diz essa fábula que a raposa está sempre tentando caçar o porco-espinho. Posta-se na entrada da sua toca e ali fica horas, pacientemente, esperando o porco-espinho sair para procurar alimento. Mas o animalzinho aguarda oportunidade e acaba saindo sem ser caçado. Entretanto, isso nem sempre dá certo.

Vez por outra a raposa, muito esperta, surge no seu caminho, faminta e pronta para o bote. Vendo a raposa em campo aberto o porco-espinho para e pensa: puxa vida, outra vez, ela não aprende... e enrola-se formando uma bola eriçada de espinhos. A raposa se atira sobre a bola e vendo que não consegue seu intento vai embora frustrada.  Dessa fábula concluem os escritores, pensando como Arquíloco, muito embora a raposa saiba muitas coisas, o porco-espinho sabe uma só, mas muito importante: garantir sua sobrevivência.

E o que aprendemos com as lições do porco-espinho? Bem, agora estamos na estação das raposas. Elas estão ativas, até marcaram data para a caçada. Lembremos com Arquíloco: a raposa sabe muitas coisas; nós, brasileiros, sabemos uma muito importante: o Brasil é nosso, é dos brasileiros, não foi descoberto nem inventado por raposas, porque, como nos veros de Waldemar Henrique “este sol, este luar, esses rios e cachoeiras, estas flores, este mar, este mundo de palmeiras, tudo isto é teu ó meu Brasil, Deus foi quem te deu”

Walter Vieira, Juiz de Direito, [email protected]

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