Não é necessário qualquer tipo de pesquisa para saber que a qualidade do transporte público no Brasil é uma das piores no mundo. A falta de capacitação de parte dos motoristas e de estrutura dos veículos, somada a grande quantidade de pessoas que dele utilizam para trabalhar, estudar e se locomover, são apenas alguns dos fatores que tornam perversa a missão de transitar em algumas cidades brasileiras a bordo dos ônibus.
Assim como nas grandes cidades, guardadas as devidas proporções, Mogi Mirim não foge à regra quando o assunto é a insatisfação com os circulares. Nesta semana, um fato voltou a chamar a atenção e assustar principalmente os usuários do transporte coletivo da cidade. Um abrigo de concreto, localizado à Rua Coronel João Leite, no Centro, caiu ao ser atingido por um ônibus não identificado.
Por ser em uma região de grande movimentação e próxima a uma escola estadual, onde estudam milhares de estudantes, a preocupação aumenta e nos traz à memória o fatídico 5 de junho, quando duas pessoas, que aguardavam a condução, morreram após serem prensadas pelo mesmo tipo de abrigo que se desprendeu nesta semana, e que, felizmente, não fez nenhuma vítima.
Após estes acontecimentos, é cômodo e até mesmo justificável, sob a ótica humanística, atribuir a culpa a alguém. No entanto, é inadmissível pensar que a culpa seja deste ou daquele. Ações para que casos como esse não se repitam têm urgência em serem iniciadas, para que novas pessoas não sejam prejudicadas ou vítimas desse jogo de empurra-empurra.
Imediatamente, após as mortes na Rua Ulhôa Cintra, como de praxe, a Prefeitura, por meio de nota oficial, além de lamentar o ocorrido, informou que “um termo de referência para a troca desses abrigos por novos, de estrutura metálica, mais modernos, que garantem mais comodidade e segurança aos usuários” já estaria sendo finalizado, além de iniciar um acompanhamento para avaliar os demais abrigos.
Quatro meses depois, ao contrário do que era esperado, o que se vê é uma semelhante situação e os projetos ainda no papel. A esperança dos usuários em ver um serviço público funcionando cada vez melhor, após informações transmitidas à população, com ares de promessa, se dissipa e faz com que as pessoas se sintam alijadas pelo governo e, talvez até desmotivadas em estarem inseridas em uma comunidade com seus problemas e qualidades, que podem e devem ser discutidos para a edificação de um lugar cada vez melhor.
Outra questão a ser debatida é: de que adianta o governo estimular a população a utilizar o transporte coletivo, através da concessão de benefícios e tarifas sociais, se o básico não está sendo feito como deveria e as condições de infraestrutura são cada vez mais desfavoráveis à população?