Que a mim me chamem de saudosista, pouco se me dá, mas a obviedade salta aos olhos: há uma indiferença, um desinteresse e uma apatia generalizada nos clientes das escolas públicas. Esperar o quê, pergunto eu, desta nova geração que hoje se plasma nos bancos escolares? Contentar-se apenas com as honrosas exceções de interessados, pejorativamente, chamados de nerds pelos colegas? Seria muito pouco!
Na verdade, não saberia apontar os reais motivos desta mesmice, se falta de perspectivas, de sonhos, de ideais ou de ambição mesmo. Não, definitivamente, não consigo atinar com o cerne destas questões. Preciso de um link que decifre este enigma… Aos alunos, tudo se lhes dá, livros, cadernos, lápis, borracha… O famoso “kit aluno”. Para comprar o material escolar, meu pai tinha que vender alguns balaios de mandioca!
No meu tempo, (eis-me na 3ª idade!) ingressava-se nas escolas com seis ou sete anos, levando-se então, para o convívio escolar uma experiência mínima de vida. Eu mesmo já tinha carpido muitas roças, roçado muita guaxuma, colhido muito café e até montado em burro brabo… Já tinha ido à padaria da cidade, sozinho, e pedido para o proprietário marcar as despesas numa caderneta, que o meu pai pagaria no final de mês. Outros tempos! Hoje a criança sai da maternidade e já vai para uma escolinha da vida, aliás, boas e benditas escolinhas que existem por aí, diga-se.
A modernidade me intriga! Certos costumes de outrora soam à pieguice. Hoje, ao entrar numa sala de aula, é mera ilusão querer que os alunos se levantem, esperar que o tratem por senhor, senhora, que façam silêncio; é muito esperar que prestem atenção e se interessem pelas questões culturais; é sonhar alto demais desejar que lhe distingam com um tratamento cordial, pois, ausente qualquer gentileza, qualquer gesto de elegância ou regra de urbanidade. O professor é simplesmente um Zé qualquer que adentra a sala de aula, com a obrigação de ministrar a melhor aula e mais eficiente. Nada mais do que isto!
Costumo dizer aos meus alunos que a vida lhes brinda com três oportunidades muito claras: a primeira, o convívio da família. Fundamentalmente, neste contexto, se plasma o caráter, a personalidade, costumes e valores, marcas para o resto da vida. O que se aprende nesta quadra da vida é insubstituível. É o início do caminho. A segunda é a escola. Este o lugar e o momento para ampliar a bagagem cultural, aprimorar e fortalecer o aprendizado do lar. E, por fim, a própria vida. Nesta, a aprendizagem é mais cruel, a exigência e a cobrança são frias e só se aprende derrapando, sofrendo, caindo e levantando, perdendo e ganhando numa aposta sem fim… A vida pune, castiga, traumatiza, deixa marcas indeléveis…
Mas, quer queiram quer não, o professor será sempre o elo indispensável, na esfera de formação do aluno e jamais, jamais abdicar-se-á de seus préstimos. Mesmo à distância é ele o facilitador que seleciona o texto, prioriza os assuntos, emite pareceres e aponta os caminhos. E mesmo ciente de sua imprescindibilidade na cadeia educacional, ele não cessa de estudar, de se aprimorar, de se atualizar, demonstrando um carinho extremo pelo que faz todos os dias, com desprendimento, abnegação, altruísmo e amor à causa.
Estou em que o grande drama de um professor é o de ver malograda a iniciativa elementar de ser partícipe e determinante na construção de caminhos e carreiras. Esta sensação de estar alijado do processo causa uma frustração sem par. Ao bater à porta não se lha abrem. Impedem-lhe de colaborar, de participar, de socializar conhecimentos, de partilhar experiências, de fazer germinar a semente, de despertar talentos, para que novas mentalidades se plasmem, novas esperanças fecundem, e promessas se realizem.
Já não basta apenas ensinar, há que ter sensibilidade para sacudir as estruturas e tornar a realidade factível, viável… Se o solo é fértil e a semente é promissora, falta apenas um toque de magia para o milagre acontecer. A grande missão é não permitir que a boa semente se asfixie e se perca pelos meandros e descaminhos da jornada. E nisto o professor é presença necessária.
Fiat lux! E os sonhos hão de vingar e os caminhos hão de se abrir numa explosão de consciências e destinos…
Luno Volpato É escritor, poeta, membro da Academia Campinense de Letras e mestre em Língua Portuguesa. Membro do Instituto Histórico e Genealógico de Campinas. Presidente do Centro de Poesia e Arte de Campinas