Há algumas semanas, Mogi Mirim se tornou pauta em cadernos e veículos especializados em esporte em todo o país. Sites, jornais impressos e canais de televisão falam da cidade através de Mirlene Picin. A publicitária segue com a sua carreira paralela de atleta, mesmo em meio às dificuldades. E colocou a sua cidade em evidência com um feito enorme. A mogimiriana se tornou a brasileira com o maior número de medalhas conquistadas em campeonatos sulamericanos entre todas as modalidades olímpicas.
A marca foi alcançada após a conquista de três medalhas de bronze no Sulamericano de Biatlo, em Bariloche, na Argentina. A competição ocorreu de 27 a 30 de agosto em Bariloche, na Argentina. Mika foi medalha de bronze no Sprint de 7,5km com duas paradas de tiro, no Pursuit de 10km com quatro paradas de tiro e no Mass Start com 12,5km e quatro paradas de tiro.
Graças a estas conquistas, Mirlene chegou a 32 em sulamericanos. Com este número, ela ultrapassou Piedade Coutinho Tavares da Silva, nadadora que fez sucesso entre os anos 1930 e 1950 e que conquistou 30 medalhas em nível sulamericano durante a carreira. Falecidade em 1997, Piedade era a recordista. Agora, é a mogimiriana. A ex-nadadora Joana Maranhão é a terceira colocada, com 24 no total.
Já, há alguns anos, Mirlene soube das marcas. E que era possível se tornar a líder deste ranking. Em conversa com O POPULAR, a atleta explicou que ficou sabendo da situação em conversa com outros atletas há cerca de três anos. Por gostar da história do esporte, passou a pesquisar sobre o tema. Foi aí que uma amiga da mesma modalidade começou a levantar medalhas e os dados ficaram mais claros.
“Já tinha um levantamento dentro da confederação que, nos esportes de neve, eu era a maior em sulamericanos há muito tempo. Desde 2015 ou 2016, eu já tinha essa marca”, explicou. Soube das marcas de Piedade e, para tirar as dúvidas de vez, chegou a consultar atletas de outras modalidades, como o tiro esportivo, que conta com várias provas dentro de um sulamericano e praticantes em alto rendimento com carreira longeva. Ninguém tinha mais que 30 medalhas.
Em uma modalidade pouco habitual no Brasil, um país sem neve, Mika jamais fez projeções de recorde antes de entrar no ski. Nem de longe. Mas, em junho desde ano, com os números na mão e a possibilidade de disputar o Sulamericano, em Bariloche, a marca se aproximava. A barreira? Uma bem comum. A dificuldade para conseguir incentivo. “Eu não sabia se iria por questão de apoio, de financiamento”. Conseguiu a ajuda e se tornou uma recordista nacional de medalhas em competições continentais.
O feito é ainda mais incrível porque Mika mora em um país sem neve, diferentes de chilenas e argentinas, que são, inclusive, anfitriãs das competições. Para chegar à coleção atual de 32 conquistas, Mirlene acredita em dois fatores essenciais. O primeiro é a consistência. Ela estreou em sulamericanos de biatlo em 2008, ano em que passou em branco. Entre 2009 e 2019, só não disputou a edição de 2013, quando não fez temporada de neve e em 2018, quando disputou o Sulamericano de Ski Cross Country. Em 12 temporadas, disputou 10 e ‘medalhou’ em oito.
O outro ponto é a maneira como Mirlene sempre encarou o sulamericano. O biatlo é uma modalidade que não está em um Panamericano, por exemplo. Pelos critérios das federações internacionais, eles não dão vaga a mundiais e Olímpiada de Inverno. Para chegar nestas competições, os atletas precisam competir na Europa ou até mesmo em alguns países da Ásia, no Canadá ou nos EUA. “Por tudo isso, (o Sulamericano) é o maior evento a nível continental com quem nós dos países abaixo da linha do Equador conseguimos competir. É o que está dentro da nossa realidade e sempre levei muito a sério”.
Dificuldades
Poucos conhecem toda a história de Mirlene no esporte. Principalmente, o início, na patinação sobre rodas. Por mais incrível que possa parecer, era uma modalidade, no Brasil, com incentivo e estrutura geral ainda menor que os esportes de neve. E falamos de um país sem neve. A própria mogimiriana só teve contato com a neve, pela primeira vez, aos 27 anos. Jamais imaginou ir tão longe.
E se engana quem pensa que ela trata esta falta de neve como a maior dificuldade da sua carreira. “A maior dificuldade para mim segue sendo o apoio. Se eu tivesse mais financiamento, conseguiria treinar melhor, ter acompanhamento de equipe multidisciplinar, com fisioterapeuta e nutricionista, por exemplo. Teria acesso a um treino de maior qualidade, teria mais tempo fora, mais tempo para me dedicar aos treinos. Afinal, ainda trabalho”.
Mirlene sabe que foi mais longe do que sonhou. Chegou mais alto do que tantos outros brasileiros e se tornou a maior colecionadora de medalhas sulamericanas do país. Mas, poderia ir além. “Em resumo, a maior dificuldade é a falta de estrutura, de apoio. De manter toda uma estrutura por trás que me favoreça a treinar com mais qualidade e a conseguir mais e melhores resultados”.