Ao observarem políticos, poderosos ou mesmo assaltantes de poderio financeiro alto ou carente cometendo atos criminosos, uma sensação de repugnância, seguida por repreensões verbais, toma conta da sociedade. Uma infinidade de cidadãos se revolta ao ver que alguém está levando vantagem, lesando o patrimônio público ou privado. A vantagem imerecida conquistada pelo uso da violência ou por manobras ilegais é capaz de ferir o sentimento das pessoas, seja por se sentirem traídas por governantes demagogos ou mesmo pela sensação de compaixão com o próximo que foi prejudicado.
A sociedade, porém, carrega muitos cidadãos incoerentes, que quando emergem do solo social para um patamar elevado acabam se valendo dos benefícios impuros oferecidos pelo sistema. Da mesma forma, quando se veem diante de uma oportunidade de apurar ganhos de forma fácil, mesmo que de maneira ilegal, acabam se esquecendo de princípios defendidos e se entregam à tentação do “enriquecimento” sem mérito.
Um exemplo desse fenômeno pôde ser observado na manhã de segunda-feira, quando a Praça Rui Barbosa se tornou palco de cenas dignas de cinema. O que era para ser mais um assalto a uma agência bancária, algo que já carrega em si diversos ingredientes nocivos, ganhou uma nova roupagem, escancarando a tendência de uma vasta gama da comunidade. O Banco Mercantil foi assaltado e bandidos deixaram notas no chão. Dezenas de pessoas se aglomeraram para levar a grana embora.
O argumento de que levar o dinheiro de um banco solto ao léu não é maléfico por ser oriundo de uma entidade poderosa, de uma categoria que penaliza brasileiros com altas taxas de juros, é frágil diante do apoio dado à criminalidade. O que pôde ser visto foi a tentação superando o princípio de não cometer um crime, além do instinto poder ter cegado alguns sem perceberem que estavam sendo criminosos.
Antes de criticar e repreender os atos de terceiros seria positivo aos cidadãos realizar um exame de consciência sobre os próprios conceitos e a capacidade de equilibrar princípios e instintos. A sociedade está repleta de cidadãos dignos, como pode ter outros que veem benefícios na criminalidade.
Esta segunda categoria ao menos deveria manter a coerência e a autenticidade no momento de utilizar no julgamento dos outros os mesmos critérios, tolerâncias e entendimentos praticados nas análises dos próprios atos. A corrupção e a ilegalidade jamais serão extirpadas se na base da sociedade ela persistir como uma arma válida a ser usada para o regozijo individual.