Uma prática comum entre uma vasta gama de pessoas quando se sentem encurraladas diante de acusações ou apontamentos de verdades doloridas é desviar o foco. Com o abalo de palavras indigestas, a arma do contragolpe é uma das opções prediletas por muitos que se veem sem condições de uma reação positiva no aprofundamento do tema. Uma das decisões nesse panorama é desqualificar o oponente. Ao se macular o adversário, a ideia é a de que as acusações deles provenientes têm o peso reduzido. A arrogância é muitas vezes a arma dos que não encontram argumentos convincentes.
Ao se colocar em uma posição superior, a pessoa se sente ilesa e na condição de ignorar o que lhe foi apontado. Outros, mesmo com bons argumentos, preferem relegá-los a um segundo plano, preferindo um direcionamento mais agressivo. Em se tratando de uma pessoa comum, sem responsabilidades com aquele que lhe faz uma crítica, a estratégia de desviar o foco pode até ser razoavelmente aceitável. Por outro lado, a estratégia não deveria ser utilizada por governantes, que deveriam ter como uma das premissas o respeito aos representados.
Em se tratando de figuras do poder público, um desvio de foco muito comum é a velha tática da acusação de perseguição. Dizendo-se perseguido, o político desvia o foco, tentando mudar o alvo dos holofotes. Em alguns momentos, a argumentação fica em segundo plano.
Em Mogi Mirim, o prefeito Gustavo Stupp e o vice Gerson Rossi repetem o antecessor Carlos Nelson e se dizem vítimas de perseguição. Stupp se disse perseguido após ter os bens bloqueados pela Justiça, assim como seu vice-prefeito Gerson Rossi, após o Ministério Público impetrar ações de improbidade administrativa com acusações de enriquecimento ilícito na compra de materiais de limpeza, alimentos e refrigerantes. Basta utilizar os trâmites legais na justiça e recorrer da decisão, sem necessidade de estardalhaço verbal. A vitória na justiça é sempre a melhor resposta, não devendo ser acompanhada de celebrações grosseiras.
A metralhadora foi direcionada à oposição, que propôs a ação ao MP, também criticado, como se a promotoria colocasse questões pessoais na base de suas ações ou agisse de forma irresponsável. A Prefeitura deve trilhar os caminhos da correção, pois dessa forma não se torna presa fácil mesmo na hipótese de a perseguição ser real.
Carlos Nelson fez uso dessa estratégia em sua gestão, assim como o deputado estadual Barros Munhoz já se disse perseguido pelo Ministério Público. Stupp e todo governante deveria se resumir a, além de agir com retidão no governo, apresentar os argumentos cabíveis, com uma satisfação convincente. Explorar o velho clichê da perseguição é um desrespeito aos cidadãos, em estratégia batida cuja eficácia é questionável. Abusar de um expediente ultrapassado confronta com a ideia de política de renovação tão representada por Stupp antes de ser eleito.