Biologicamente falando, embora sejamos todos humanos, ninguém é igual a ninguém. Ainda que a maior parte de nós possa ter composição e órgãos em comum, cada um reage de uma forma ao alimento, aos remédios, à oscilação de temperatura, entre tantas outras particularidades.
Do ponto de vista comportamental, filhos gerados pelos mesmos pais, na mesma casa e condições, às vezes só tem de coletivo o endereço e os dados da certidão de nascimento. Só! Aí vem a sociedade pregando sobre igualdade e condicionando a falta dela às injustiças.
Por definição, o substantivo feminino “justiça” é a qualidade do que está em conformidade com o que é direito; maneira de perceber, avaliar o que é direito, justo. Mas para quem? A partir de quem? Qual é o ponto?
Vou usar uma situação financeira de quem tem um casal de filhos para tentar exemplificar. Supomos que a menina queira cuidar das unhas na manicure e gaste R$ 30,00 para isso. No mesmo dia, seu filho decide ir ao cinema com os amigos. A pergunta que vale um milhão: o justo neste caso não seria dar o mesmo valor aos dois? Mas isso resolveria o problema dele? Não! Então deveria dar essa diferença em dinheiro a ela? Mas e se isso comprometer a renda da semana da família e tornar inviável tanto a unha quanto o cinema? É melhor manter a igualdade ou respeitar as necessidades dentro das possibilidades?
Um chocolate nunca vai ter o mesmo sabor para mim e para você! Eu posso abrir mão de ir ao dentista para comprar uma roupa nova enquanto você anda com o sapato sem sola. Na real, nós nunca deveríamos nos comparar com nada que esteja fora de nós. Então nós nunca deveríamos querer só porque o outro teve.
Ah, mas isso quer dizer que devo aceitar tudo? Não! Quer dizer que deve alçar o que faz sentido para você! Não é porque um irmão foi tomar um sorvete que o outro tem que ir em algum lugar também sendo que o que alegra pode ser justamente ficar jogado no sofá!
Quando trago isso para a vida de casal, fica pior ainda. Já cansei de ver aquela disputa boba de “se tem direito a gastar com cerveja, vou comprar cremes também”! Precisa do creme? Usá-lo vai te satisfazer tanto quanto ele ao beber? Além do que, se os dois gastarem o que não deve ao mesmo tempo, vai ficar tudo bem ou logo, logo, se abrirá uma cratera financeira? Tá, ele toma cerveja, mas quanto custa quando decide ir ao cabeleireiro?
Gosto sempre de deixar claro aqui que tudo que falo é baseado em percepções da minha casa, da nossa forma de viver. Levei tempo para compreender que esse sentimento de injustiça era só uma semente para um monte de outras coisas ruins que vamos plantando dentro da gente. A vida pode parecer injusta para quem não descobre a própria medida.