A organização da sociedade sempre busca as formas mais consensuais de se atingir um equilíbrio que contemple o humanismo, a harmonia nos relacionamentos, a renúncia à parcela mais primitiva dos seres humanos. A violência é parte da formação irracional e se manifesta quanto menos os indivíduos se atêm a princípios morais e de respeito aos demais. A lei da sobrevivência é sentimento atávico que precisa ser sufocado, tomando a forma de sadio desenvolvimento e potencial capacidade de superação pela paz.
Na semana passada, uma sequência de acontecimentos abalou o clima de tranquilidade que caracterizava Mogi Mirim. Por uma infausta coincidência, três crimes bárbaros deixaram um rastro de pesar e dor, abalando a sociedade que assistiu estarrecida à profanação de sua paz. A morte de um jovem advogado, de um professor aposentado e de um casal imolado em frente a um supermercado em horário de movimento trouxe a realidade da violência urbana para a consciência de todos.
Não há por que temer uma escalada da violência. Não foi por falta de recursos ou fatores determinantes que o drama se desenrolou em curtíssimo espaço de tempo. Tampouco há relação entre os crimes. Trata-se de uma trágica e infeliz coincidência que fez acumular emoções, sentimentos de pesar, medo e revolta que se somaram e criaram uma comoção como há muito não se tinha.
A dura realidade da violência no Brasil ainda é pouco vivenciada pelos mogimirianos. O distanciamento dos grandes centros, o caráter pacato de seu povo e os problemas cotidianos transformam os poucos casos policiais em rotinas de combate ao tráfico, acidentes de veículos e poucos casos de morte violenta. A sociedade normalmente faz vista grossa a casos mais distantes, fora de seu convívio, como se a desgraça e a tragédia tivessem fronteiras e limites sociais. Mas elas estão presentes, enraizadas no drama de qualquer um e prontas para despertar os sentimentos de revolta e impotência diante da inexorabilidade da vida.
Os casos traumáticos recentes são feridas que não cicatrizarão e serão lembrados por um longo tempo. Servirão de reflexão e proporão uma parada na agitação da vida de cada um. Que sejam exemplos para reavivar a chama do humanismo e da paz entre as pessoas, deixando a barbárie para trás. A violência em sua forma mais fatal é o atestado da bestialidade humana e um traço a ser extirpado com consciência e limites morais rígidos.