Chegou fevereiro, o mês do Carnaval. Ao menos em 2023, está reservado para o segundo mês do ano uma das principais tradições do Brasil. A celebração tem a data vinculada à religião (o fim da festa é o começo da Quaresma, período de penitência para os católicos e que antecede a Páscoa). E é mais antiga em nossa cidade do que se pode imaginar.
“…pelas ruas desfilavam bandos de foliões, denominados de máscaras e encamisados, levando alegria por onde passavam e acompanhados pelas corporações musicais de Mogi Mirim. Os componentes desses antigos blocos e que existiram entre os anos de 1850 e 1880, cantavam e entregavam flores para as moças mogimirianas…”, contou o jornalista e historiador Nelson Patelli Filho em uma de suas colunas para O POPULAR.
Quase dois séculos depois, o costume de ir às ruas nesta época do ano perdura e um dos movimentos que sustentam este hábito é o “e eu ligo?”. Este é um dos blocos mais tradicionais de Mogi e volta à ativa em 2023 após dois anos sem folia. É que, assim como outras atividades, o Carnaval saiu de cena entre 2021 e 2022 por causa da pandemia de covid-19. E deixou uma lacuna e tanto.
“Já estava sentindo falta dele. Foram somente dois anos? Sim. Mas mesmo assim fez falta. É gostoso a volta, a volta é sempre boa”, pontuou Luiz Renato Canto de Campos, fotógrafo e um dos responsáveis pelo bloco que, desde 2011 com este nome, desfila alegria e irreverência no Carnaval local. O único período parado foi exatamente o hiato da pandemia. E agora vão voltar com tudo.
Tanto que, após cinco anos, a festa será em um espaço público. A Praça Jornalista Valter Abrucez, também conhecida como Praça 250 Anos, em frente à porta principal do Centro Cultural ‘Professor Lauro Monteiro de Carvalho e Silva’ é o palco programado para a edição deste ano. O bloco vai se divertir no sábado, 11 de fevereiro, das 15h às 22h.
Só que há um porém. A saudade pode ter causado um alvoroço nunca d’antes visto e as centenas de camisas colocadas à venda foram compradas em 15 dias. “Só fizemos uma lista de desistência e aí vamos encaixando quem está na lista de espera. Não aceitamos mais pedidos de compra”, deixou claro Nato Canto.
E, como é tradição, só entra no ‘… e eu ligo?” quem está devidamente trajado. O espaço será limitado para quem adquiriu o convite, mas a promessa da organização é de que a praça de alimentação montada para os foliões também servirá quem estiver do outro lado da área delimitada. Assim como, quem quiser, pode curtir a festa ali pertinho, na calçada, na rua, onde a alegria do Carnaval estiver.
Programação
O bloco começa às 15h com a banda do maestro Carlos Lima, da Lyra Mojimiriana. Até mais ou menos 21h serão apresentadas diversas músicas típicas, como as tradicionais marchinhas. Então, ao final, entra a bateria da Escola de Samba da Cludesp (Clube da Depravação da Espécie), um grupo de amigos de Mogi Guaçu (SP) e um dos mais respeitados da região quando o assunto é Carnaval.
E aqui entra um ponto valioso do “… e eu ligo?”. O bloco sempre buscou unir a folia ao social. Por isso, o que é consumido de bebida e comida no recinto é revertido para instituições de caridade. A responsabilidade pela praça de alimentação é da ETC (Equipe de Trabalho Comunitário), que atua, formalmente, desde 1985 na cidade e ficará encarregada por destinar os donativos às entidades.
“Nós fizemos este bloco sem o intuito de lucro, nunca visamos. Tudo o que arrecadamos com camiseta, a gente reverte para dentro do bloco, com mais músicos, mais atrações, mais conforto. Tanto é que, sempre que foi em lugar público, o arrecadado foi para as entidades”. O “e eu ligo?” começou em 2011, na Praça 9 de Julho, a Praça do Half.
Seguiu no local até 2016 e, no ano seguinte, ocorreu no salão de festas da Barros, mantendo, ainda assim, a tradição de destinar a verba oriunda da venda de comida e bebida para instituições sociais. Somente em 2018 e 2019, quando foi no Nostro, e em 2020, quando ocorreu no Roça Urbana, é a receita ficou com os proprietários dos espaços cedidos.
Agora, a volta do bloco às ruas também marca um retorno às origens. “E foi aleatória a escolha do lugar, já que a gente não tem um ponto fixo. Essa praça nova, do Centro Cultural, é muito bacana, plana e tem tudo pra dar certo e por isso estamos com ela. Mesmo porque eu gosto de mudança, sempre mudando”, enalteceu Nato. A não ser em uma questão. “Comida, bebida, muita música e curtir os amigos, isso é o Carnaval e isso não mudamos, é o mesmo molde de sempre”.
Além de Nato, Victor Garcia, um dos fundadores do bloco, está na organização. O “e eu ligo?” conta com o apoio da Secretaria Municipal de Cultura e Turismo, além da ETC no suporte à praça de alimentação. No mais, é cair no samba e na folia e curtir a volta de um dos blocos mais tradicionais de uma cidade que há séculos curte o Carnaval.
Origem na década de 1980 e a retomada em 2011
A história do ‘e eu ligo?’ começou antes mesmo do bloco ser fundado, em 2011. É que, há 12 anos, a iniciativa de quatro amigos seguiu um legado. É que em meados de 1986, de forma bem aleatória, nasceu o Bando do Bar do Hélio. Após as décadas de 1960 e 1970 terem sido marcadas pelos salões como palco do Carnaval no país, anos depois as ruas voltaram a dominar.
E aí, em 1986, quando Mogi Mirim realizada o seu desfile, ainda com escolas de samba e tudo mais, estes amigos invadiram a “avenida”. Da Rua Padre Roque à Praça Rui Barbosa, lá foram eles, de “bico”, mas anunciados pelo locutor como “Bando do Bar do Hélio”. Foram quatro anos de muita folia, mas interrompida por um hiato de 21 anos, encerrado em 2011, quando Nato Canto, Vitor Garcia, Alfredo Milano e Paulo Miranda, além de nomes como Edson Andrade e Roberto Guardia se uniram e voltaram com tudo.
E com o “e eu ligo?”. Milano, um artista plástico de mão cheia, infelizmente, faleceu precocemente. O nome, aliás, é uma homenagem a outro saudoso amigo, o ex-vereador Antonio Carlos Guarnieri, o Toca, que, entre várias frases de efeito e bordões, soltava um “e eu ligo?” habitualmente. Agora, mesmo após os forçados dois anos sem festa, o bloco também é um hábito para os mogimirianos e, cada vez maior, vai garantir horas de muito samba, alegria, amizade e tudo mais que rege a cartilha do Carnaval.
FOTOS: NATO CANTO/ACERVO PESSOAL