*Por Anderson Dutra e Rodrigo Milo
Para a indústria de petróleo e gás, os riscos e incertezas que têm permeado o setor estão potencializados em 2022, a começar pela guerra entre Rússia e Ucrânia. As sanções dos Estados Unidos e da União Europeia à Rússia deverão tirar três milhões de barris por dia de exportações deste país do mercado. Também persiste o impacto de longo prazo da pandemia.
Tudo isso provoca um choque de oferta, com distribuição restrita e interrupções no fornecimento, levando o preço do barril a US$ 139, o maior desde 2008, quando o valor do brent era de US$ 146. Apesar desse cenário de majorações, poderá ocorrer uma reversão nesse quadro se a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) ampliar a produção e a extração não convencional dos Estados Unidos crescer na proporção estimada por analistas. Caso essas possibilidades se concretizem, haverá excedente de oferta de óleo de até 6,4 milhões de barris adicionais por dia, no final deste ano.
Outro fator que poderá reduzir a demanda global refere-se à China, pois sua estratégia de zero Covid-19, incluindo rígidos “lockdowns” intermitentes e outras medidas, limita os negócios. Além disso, as políticas econômicas e ambientais do presidente Xi Jinping poderão desacelerar a expansão econômica do país e, portanto, diminuir seu consumo de petróleo.
Tais fatores poderão acelerar a execução das propostas legislativas Fit for 55 da União Europeia, destinadas a reduzir as emissões de gases de efeito estufa em pelo menos 55% até 2030. Isso implica diminuir de modo significativo o uso de combustíveis fósseis.
Em um cenário de dúvidas entre a falta ou excesso de oferta no mercado internacional, as empresas de petróleo e gás também precisam prestar atenção aos governos e às pressões sociais e ecológicas relativas às mudanças climáticas, que ganham cada vez mais força, inclusive pela ampla facilidade de comunicação e mobilização das redes sociais.
Em decorrência de todos esses fatores e da consequente transformação no portfólio das empresas do setor, adicionando ativos de energia limpa e renovável em sua carteira de projetos, as companhias nacionais de petróleo terão ainda mais poder e domínio do mercado.
Como se observa, há mais perguntas e incertezas do que respostas, e estas estão fora do controle do setor de petróleo e gás. Resta-lhe cautela e adoção de medidas estratégicas. Quando não é possível controlar as causas dos riscos, é preciso estar preparado para enfrentar as consequências. Fazer essa lição de casa com eficácia é a única certeza atual da indústria de petróleo e gás.
*Anderson Dutra é sócio-líder de Energia e Recursos Naturais da KPMG no Brasil e Rodrigo Milo é sócio de Segurança Cibernética da KPMG no Brasil.