Quando os filhos são pequenos, é muito fácil identificar o amor deles por nós. Está em cada sorriso, em cada abraço. A alegria em nos rever depois de algum tempo longe, mesmo que poucas horas, é contagiante. Me lembro de como comemoravam cada vez que eu sabia onde estava o brinquedo que estavam procurando, o olhar de “minha mãe sabe tudo” estampado nos rostinhos, me sentia mais porreta que a Mulher Maravilha.
À medida que vão crescendo e descobrindo o tamanho que é o mundo e suas infinitas possibilidades, vamos sendo colocados de lado. Deixam o almoço em família por um churrasco com os amigos, viajar nem é tão legal e ficar reunido para assistir um filme é coisa muito rara. O mundo lá fora chama, e grita alto.
As vezes sinto que há a perda de admiração. Eles desconfiam das nossas convicções, acham que não temos razão quando alertamos sobre algum amigo ou pedimos para evitar lugares. Acontece também quando discutimos política e papéis sociais.
Eu me lembro de quando estive do outro lado. Quando minha mãe falava, eu ficava pensando “ela não sabe, não conhece como as coisas são hoje”. Uma bobeira sem tamanho que fica maior ainda se considerarmos que ela engravidou de mim com 16 anos, com uma diferença de idade tão pequena, vivemos praticamente a mesma geração de coisas.
Mas, também por já ter passado por isso, sei que é passageiro. O que renegamos na adolescência passa a ser motivo de orgulho na fase adulta. É como se precisássemos temporariamente matar nossos pais para que possamos existir. Aquele bolo que hoje achamos sem açúcar, vai ser objeto da nossa saudade, a sopa – lá em casa rola a campanha sopa não é janta – vai ser nosso desejo para acalentar o coração num dia frio depois de chegar da rua cansado e não ter nada pronto para comer.
Nós somos as referências que carregamos. É claro que nossos pais erram e nós, como pais, também erramos. Mas há um fato irrefutável: não podemos esquecer que somos quem somos por conta de onde viemos.
Como mãe afirmo que não é fácil ter sabedoria para passar por esta fase: você se desdobra para que todos fiquem quentinhos enquanto é olhada nos olhos como se tivesse uma cabeça que serve apenas para pendurar brincos… Mas esse é ensinamento que Jesus pregou, o amor ágape: o divino, o incondicional. Vai passar!