A vida é cheia de regras e normatizações. Elas ajudam em milhares de coisas, mas nós não podemos nunca deixar de lado o nosso instinto. Eu sempre fui uma boa observadora das crianças, às vezes ainda demoro um pouco para destrinchar o que aquela “pulguinha atrás da orelha” quer me dizer. Mas ela sempre diz.
Quando a Gabi estava no terceiro ano, a lição de casa era um problema. Todos os dias tinha choradeira, briga. Uma bobeada e a desarmonia tomava conta do ambiente. As notas na escola estavam na média, nenhuma reclamação. Aquilo me incomodou de um jeito, que decidi procurar ajuda. Precisava entender se ela não gostava de estudar – e tudo bem, aprenderíamos a lidar com isso – ou se, de fato, havia alguma coisa errada.
Procurei primeiro a escola e me disseram que “estava procurando pelo em ovo”. Entendi o posicionamento deles, mas não parei até que tivesse minhas próprias conclusões. Fomos ao oftalmologista e tudo certo. Partimos para a audiometria, nada também. Busquei então uma psicopedagoga e foi ela quem matou a charada.
Durante os testes ela desconfiou de “Falha no Processamento Auditivo”. Fizemos um exame específico e batata… Achamos o que atrapalhava a vida escolar da Gabriela. Esta desordem não significa falta de audição ou problemas nela, e sim uma determinada dificuldade em processar e interpretar o estímulo auditivo que foi detectado pelo ouvido.
Na prática, falando de forma bem simplista, a pessoa não compreende algumas situações, não percebe a diferença na entonação no pronunciamento da palavra, o que atrapalha também a interação social e pode gerar até problemas psicológicos, na autoestima e na maneira como percebe o mundo.
O caso da Gabi foi simples, com a ajuda de uma fonoaudióloga e reposicionamento na sala de aula, em um ano tivemos uma mudança completa de vida. Completa mesmo. Mudou a forma de estudar, mudou a organização com os afazeres. Diria que a vida dela está dividida em antes e depois do diagnóstico.
Por um tempo, quando eu contava essa história para alguém, percebia que ela sentia vergonha, como se fosse algo que a diminuía. Às vezes acho que nascemos mesmo com esse sentimento de inferioridade sobressalente embutido nas entranhas. Mas, fiz ela perceber o quanto poderíamos contribuir para curar outras pessoas e que, às vezes, temos partes que precisam de ajuda para funcionar. E que está tudo bem. Superar nossas dificuldades físicas é também um caminho para a evolução da inteligência emocional, não há do que se envergonhar!