Referência do jornalismo regional e fundador de O POPULAR, o jornalista Valter Abrucez morreu na madrugada de sexta-feira, aos 70 anos, vítima de complicações decorrentes do câncer, no Hospital 22 de Outubro, onde estava internado.
Natural de Uberaba-MG, Abrucez mudou-se com os pais ainda na infância para Jaguariúna, antes de chegar ao distrito de Martim Francisco e fincar residência em Mogi Mirim. Tornou-se jornalista autodidata e impressionava ao liderar, mesmo sem formação superior, inúmeros profissionais formados. Era chamado de mestre pelo dom de transmitir conhecimento.
Abrucez começou pela imprensa escrita no jornal A Tribuna, onde atuou com Argemiro Repas, o Miro, antes de se tornar proprietário do veículo em sociedade com José Geraldo Franco Ortiz, o Lalo. “O Valter imprimiu uma revolução na imprensa de Mogi. Sempre achei ele um gênio”, destacou Miro, em depoimento divulgado em homenagem surpresa preparada pela família no aniversário de 70 anos de Abrucez, em abril. “Era um jornal jovem, dinâmico e revolucionário para aquela época no jornalismo em nossa cidade”, enalteceu Mauro Adorno, que mais tarde o convidou para uma nova etapa, desta vez em O IMPACTO, com Abrucez trazendo a bagagem do jornalismo diário das passagens por Diário do Povo e Correio Popular, de Campinas. “Eu tive a petulância de trazê-lo de volta para Mogi Mirim para trabalhar e coordenar as redações de O Impacto e A Gazeta Guaçuana, ele dinamizou o jornalismo regional”, completa Mauro.
Trabalhou ainda no jornal A Comarca e fundou O POPULAR, com Geraldo Bertanha.
No meio radiofônico, Abrucez foi lançado por Lalo. Atuou nas rádios Cultura, Alvorada, Chamonix e CBN, além de ter trabalhado na Central e Educadora, em Campinas. No rádio campineiro, era chamado de Valter Luís, mesmo não tendo a segunda denominação, para se evitar a sonoridade de Abrucez. Na televisão, atuou na SECTV e foi editor-chefe do jornalismo da EPTV.
Outra experiência foi como assessor de imprensa. Assessorou Carlos Nelson em Mogi Mirim e atuou nas cinco administrações de Walter Caveanha em Mogi Guaçu, onde atualmente trabalhava. Participou de campanha política em Alagoas e foi chefe de gabinete do ex-prefeito Luiz Netto. Em nota oficial, a Prefeitura de Mogi Guaçu decretou luto oficial por três dias.
Abrucez deixou a esposa Lúcia e as filhas Paula e Patrícia. O sepultamento foi na tarde de ontem, no Cemitério Municipal. Sobre seu caixão, foi colocada uma bandeira do São Paulo, time para o qual torcia.
Completo
O início de Valter foi no jornalismo esportivo, mas depois se especializou em Política e se destacou por dominar as mais variadas editorias e diferentes mídias. Dominava os diferentes estilos de texto, como artigos, crônicas, reportagens e notas com humor refinado no estilo drops. Como líder, se destacava pelo perfil exigente em busca do melhor jornalismo.
Abrucez foi mestre de destaques da TV Globo
Além de importante no desenvolvimento de diversos jornalistas de Mogi Mirim e Mogi Guaçu, Valter Abrucez teve reconhecida importância na formação de profissionais na época de editor-chefe da EPTV, ensinando grandes nomes atualmente na Rede Globo.
Em festa-surpresa de 70 anos preparada pela família, em abril, depoimentos de nomes como Ilze Scamparini, do jornalismo internacional da Rede Globo, e Heraldo Pereira, da equipe de apresentadores do Jornal Nacional, foram exibidos em homenagem a Abrucez. “Você foi um dos mestres da minha vida, um dos primeiros. Você falava pouco, mas às vezes até com o olhar ensinava a fazer matéria para a TV e aquilo que você não ensinava diretamente para mim, o Heraldo Pereira me falava e dizia ter aprendido com você. Então você foi e sempre será uma pessoa muito especial pra mim”, disse Ilze, em vídeo gravado da Itália. “A imagem que guardo de você é a de um homem inteligente, sensível, silencioso, reflexivo, sério, compenetrado, generoso sempre e com um senso de humor discreto e irônico que eu sempre admirei”, completou.
A importância de Valter também foi destacada por Heraldo, em vídeo gravado da bancada do Jornal Nacional. “Esse lugar que eu estou aqui substituindo o Willian (Bonner) hoje, fazendo o Jornal Nacional, penso que foi muito por sua causa, não só pela minha carreira, mas pela carreira de tanta gente que passa pelos jornais da Globo”, enalteceu, lembrando o período em que atuou com Abrucez. “O Valter me acolheu logo na chegada da TV Campinas. Começamos nos anos 80, aprendendo com uma pessoa como você”, destacou.
Valter também foi importante na carreira do repórter Luiz Ceará, com passagens pela Bandeirantes, Globo, SBT e Rede TV. “Não fazendo concessões, ele montou uma estratégia de trabalho que foi seguida por muita gente, eu por exemplo. Ele é um dos formadores do caráter do jornalismo da EPTV”, observou, ressaltando a relevância de Valter. “Ele fez muitos jornalistas aprenderem. O Valtão, muita gente não sabe, é um cara superbem humorado, mas o humor dele é uma faca afiada, um humor inteligente. As características do Valtão que ele passou pra todos nós são de ser duro, correto, de olhar os lados para não fazer uma bobagem e principalmente de ser honesto”.
Narrador da Bandeirantes e Bandsports, com passagem pela Globo, Oliveira Andrade é outro que reverencia Abrucez. “Em 2018, eu vou completar 50 anos de profissão. Trabalhei com grandes profissionais, mas com gente de talento mesmo, foram poucos, entre os quais você”, apontou, lembrando quando atuaram na EPTV. “Aprendi muito com você, você é um curinga, transita com facilidade em todas as áreas, fala de futebol e de política com a mesma facilidade. Tem um texto leve, que flui fácil”.
Outro nome que aprendeu com o jornalista é o narrador Alberto César, hoje na Rede Família, que começou com Abrucez em Mogi e depois passou pela Rede Bandeirantes e rádios Central e Jovem Pan. “Você teve uma importância transcendental na minha vida profissional, foi meu mestre, meu guru, me doutrinou. Você é meu ídolo”, enalteceu.