Missionário, Adílio Cândido aborda o trabalho como técnico e idealizador de competições indígenas em Santa Cruz Cabrália, cidade próxima a Porto Seguro, na Bahia.
Boteco – Como surgiu a oportunidade de treinar os índios?
Adílio – Em 2015, fiz parte de um grupo que foi para uma base missionária da Jocum (Jovens com uma Missão) que iria começar em Santa Cruz Cabrália. E nisso eu e o líder da base, Gerson (Tchê), fomos até a aldeia falar com o cacique. Aí falei que era formado como treinador de futebol e falei da vontade de servir o povo indígena.
Boteco – Como foi sua formação como técnico?
Adílio – Fiz o curso em 2008, a licenciatura C, e de lá pra cá venho fazendo mais alguns na Universidade do Futebol pra poder me capacitar mais, me especializar.
Boteco – Você trabalhou com índios de qual faixa etária?
Adílio – Trabalhei com crianças de 8 anos até adultos de janeiro de 2015 a novembro de 2016. Amo aquele povo.
Boteco – Você que organizou o campeonato indígena?
Adílio – Não, só dei a dica, eles mesmo podem fazer isso.
Boteco – Mas quando você chegou, não tinha?
Adílio – Não, antes não. Só dá prefeitura da cidade. Hoje eles têm seus próprios campeonatos dirigidos e apitados por eles. Isso me deixa muito orgulhoso.
Boteco – Qual dica você deu?
Adílio – De eles fazerem o campeonato, aproveitar que era ano de eleição e pedir patrocínio. Então teve troféu medalhas e dinheiro pro time campeão.
Boteco- Quando você chegou, qual era a relação dos índios com o futebol?
Adílio – Era bem forte, mais sem muitos fundamentos. Todas aldeias têm um campo, são 12 tribos.
Boteco – Adílio, vocês disputaram quais campeonatos?
Adílio – Os Jogos Indígenas e também fui convidado por um treinador do time da cidade pra ir pro Campeonato Baiano de salão masculino, em Ilhéus, fomos campeões sub-13 e perdemos a final no sub-15. E teve o torneio de futebol na praia de Coroa Vermelha que só jogaram as mulheres.
Boteco – Você foi técnico de qual?
Adílio – Eu montei o time da aldeia Nova Coroa. Eu só treinava, no dia do jogo eram os índios que ficavam de treinador. Mas as meninas vinham falar comigo no intervalo.
Boteco – E a rivalidade de vocês é com qual aldeia?
Adílio – Minha nenhuma, mas a deles a Novos Guerreiros. Eu dava aula pra quase todas aldeias. Não tinha rivalidade.
Boteco – Como foi seu time no campeonato?
Adílio – Bem demais, perdemos a final contra as meninas que jogam pro time da cidade. O dos meninos acontece nos Jogos Indígenas, em abril, um mês inteiro de comemoração.
Boteco – Conte a história da surpresa na final.
Adílio – Eu estava vindo do Rio de Janeiro, pois fui ver minha ex-namorada e cheguei dias antes da final. Aí apitei a final e fui surpreendido, eles pediram pra eu entregar o troféu de campeão e falaram um monte de coisa que fiz lá, me deixou emocionado. Como falei pra você, amo aquele povo, hoje é meu povo. Amo o que faço e faço com muito amor.
Boteco – Como são os uniformes dos times?
Adílio – Nos Jogos Indígenas, todos jogam com as roupas tradicionais deles. Cada tribo tem suas cores. São todos pataxós. Já nos outros com uniformes.
Boteco – E você teve que deixá-los?
Adílio – Sim, sou missionário, vou pra onde Deus dá a direção. Mas eles estão no meu coração, pode ser que eu volte lá, mas não por agora.
Boteco – Adílio retorna para contar histórias divertidas na relação com os índios e a inserção na cultura indígena.