A medalha de campeão paulista conquistada pelo preparador físico Fábio Guerreiro, o Fabinho, pelo Ituano, ganhou uma “companhia especial”, coroando uma primorosa temporada de 2014. No domingo, Fabinho garimpou outra medalha de ouro, agora como preparador da seleção brasileira feminina, campeã da Copa América, no Equador, após empate com a Colômbia.
Na trilha da missão de conquistar a Copa América, Fabinho se deparou com uma das decisões mais difíceis da vida: se desligar do Ituano, onde tinha uma estabilidade profissional e o respaldo da diretoria, pois se tornou inviável conciliar time e seleção diante da necessidade de passar 40 dias longe do clube. Agora, se concentra na seleção. “Pesou o fato de ser a seleção e o Vadão, que é um cara sensacional. Tive que tomar a decisão”, resumiu, salientando a importância do técnico.
O rendimento físico na Copa América foi comemorado, com o sucesso da fase de preparação na Granja Comary. A conquista teve ainda mais valorização pela ausência das jogadoras que atuam no exterior como Marta.
Um dos desafios foi a altitude do Equador, mas que também afetou outras seleções. “Entre um estímulo e outro, elas demoravam um pouco mais para recuperar e às vezes faltava ar. Até mesmo para dormir é complicado para respirar. Mas fomos fazendo a adaptação durante o campeonato”, explicou Fabinho. “A única que não sentiu foi, claro, o Equador, mas contra elas nós deitamos e rolamos”, lembra, em relação à goleada por 4 a 0 no quadrangular final.
Agora, Fabinho desfruta dos prazeres das férias, mas pode ser chamado a observar jogos do Brasileiro Feminino. No fim de outubro, deve haver um amistoso. Em novembro, a preparação para o Torneio de Brasília, que acontece em dezembro.
Além da conquista, a seleção garantiu vaga no Pan-Americano e Mundial de 2015, ambos no Canadá. Antes, vai disputar o Torneio de Brasília, onde vai encarar a potência Estados Unidos, desta vez com Marta. A competição permitirá ter uma base melhor de até onde a seleção pode chegar. “Temos que trabalhar muito para nivelar com seleções como os Estados Unidos”, admite Fabinho.
O sonho de colocar a mais especial das medalhas na coleção, a das Olimpíadas, não é escondido, mas antes a meta é ganhar a Copa do Mundo. “Só de estar na Granja é um sonho realizado, mas imagina conquistar o ouro olímpico, é o sonho de qualquer um”, reconheceu.
Bem acolhido pelas garotas, Fabinho se diverte na seleção
Com perfil carismático, carregado de bom humor e pleno domínio da linguagem do mundo da bola, Fabinho logo caiu nas graças das jogadoras, criando amizades sem perder o respeito. “É sensacional, elas me acolheram muito bem. No grupo, tem a hora de brincar, é muito gostoso, sadio, mas tem a hora do trabalho. Elas sabem separar. Respeitam muito mais do que os homens”, revela, admitindo a expectativa de trabalhar com Marta.
O lado negativo é a hora das refeições, brinca Fabinho: “Imagina 22 mulheres falando ao mesmo tempo, fofocando, todos os dias”.
Se por um lado o título de campeão paulista lhe ajudou a ter credibilidade para impor respeito, por outro a idade foi o agente facilitador no aspecto de convivência, mas Fabinho se entrosa também com as mais experientes. “Uma das minhas mais parceiras é a Formiga que é muito mais velha que eu, tem 36, eu tenho 28”, compara.
O período de convivência no Equador serviu para unir o grupo. Não havia folgas, apenas uma hora eventual para ir ao shopping.
“O Vadão conseguiu um grupo equilibrado, com perfil forte, ele trabalha muito a parte psicológica”, observa.
Questionado sobre o fato de ser solteiro e estar entre mulheres atléticas, além de haver casos de casais de treinadores e jogadoras no vôlei, Fabinho admite ter pensado no tema, mas procura separar as coisas. “Tem que ser muito profissional independente de qualquer coisa”, ressaltou, sem disfarçar um leve sorriso no semblante.
Fabinho treinou de lateral entre as meninas
Além de preparador físico, Fabinho Guerreiro exerceu uma inusitada função nos treinamentos da seleção brasileira: atuou como lateral-esquerdo. Isso porque foram convocadas 22 jogadoras, sendo três goleiras. Faltava, assim, uma jogadora na linha.
Com a experiência de meia no futebol universitário norte-americano e atacante no futebol amador de Mogi Mirim, Fabinho ajudou a seleção reserva, marcando e construindo lances de perigo. “O Vadão me improvisou na lateral-esquerda. Eu não dosava, o Vadão falava para ir normal”, conta, revelando ter até marcado um gol, para delírio das companheiras.