Eu sempre nutri uma admiração especial por Ulysses Guimarães. Não me recordo de ter votado nele em alguma ocasião. Minha tendência sempre foi sufragar (palavrinha moderna, não é mesmo) representantes mais próximos de nós, da cidade, da região.
Tinha por ele, entretanto, grande respeito. Do mesmo modo que admirava Marcos Freire, político pernambucano, senador e deputado federal, que por sinal, como Ulysses, morreu de modo drástico, em acidente aéreo. No caso de Freire, nem que quisesse não poderia elegê-lo. Mas, o tinha como modelo, gostava de ouvi-lo.
Dentre as razões pelas quais admirava o velho capitão nascido em Rio Claro estava sua calma, seu espírito conciliador, seu caráter de diplomata, sua capacidade de manter a voz sempre no mesmo tom ainda que nos momentos mais críticos.
Ulysses foi, pela minha avaliação, o melhor exemplo de como um cidadão deve exercer as responsabilidades do seu cargo. Explico melhor: foi um modelo na presidência da Câmara dos Deputados e na presidência da Assembleia Nacional Constituinte.
Não tenho notícia de uma transgressão que ele tenha praticado frente às leis ou de exacerbação que tenha cometido em vindita a algo ou a alguém que o tenha afrontado. Aliás, será que ele foi afrontado alguma vez?
Com certeza não serão unânimes estas minhas considerações acerca de Ulysses Guimarães. Afinal de contas, ninguém passa pela vida política de forma unânime, imune e impune. O que escrevo compõe a fotografia que eu construí acerca do personagem a que me refiro.
Me desculpem a petulância, mas não resisto a aconselhar que, qualquer indivíduo alçado à presidência de alguma esfera de poder, antes de assumir deveria ler a biografia de Ulysses. Para absorver conhecimento e exemplos e, eventualmente, até para desistir do ofício.
Toda avaliação, conforme entendo, precisa de elementos comparativos. Como dizer se algo é o melhor sem que haja régua para medir? Como dizer que alguém ‘é o cara’ se não houver alguém com quem se o comparar?
Ora, para que não seja, portanto, gratuita a eleição que faço de Ulysses como modelo, sirvo como parâmetro o deputado Severino Cavalcante, também levado ao mais alto posto da Câmara dos Deputados por obra do que não é preciso explicar.
Simulacros de figuras díspares como Guimarães e Cavalcante se reproduzem por este Brazil-zil-zil… Nos rincões e nos eldorados. Nas melhores casas do ramo e nas piores também – se me entendem. Os descaminhos do nosso sistema levam a essas contradições históricas. Nem sempre é o mérito que leva à escolha, mas a conveniência, o jogo de interesses, a avareza política. Então, um dia Ulysses, outro dia Severino.
Concluo: ainda bem que existiu o “doutor Ulysses”. Não fosse isso e se certas condutas miseráveis se justificariam pela falta de opções de modelos exemplares. Mas, o perfil de Severino também está no mercado. Como gosto é gosto, não falta quem prefira severinizar.
Valter Abrucez é jornalista autodidata. Ocupa, atualmente, o cargo de Secretário de Comunicação Social na Prefeitura de Mogi Guaçu e escreve aos sábados em O POPULAR