Passam das 9h quando os primeiros colecionadores começam a chegar. São montes e mais montes de pacotes nas mãos, cartelas com os mais diversos números e a busca ininterrupta pelas figurinhas que restam. O ritual se repete durante horas e horas e pode ser presenciado todo sábado e domingo, quando a praça pública da Vila Bianchi, em frente ao Supermercado Lavapés, reúne colecionadores do álbum de figurinhas da Copa do Mundo no Brasil. A coleção, febre em todo o país, já desembarcou em Mogi, arrasta milhares de pessoas ao posto de troca, e é responsável por criar amizades e até servir como forma de espantar a timidez de crianças.
Em 73 páginas, as 32 seleções que participarão do mundial, que começa no dia 12 de junho, estão divididas em 649 cromos, entre jogadores, escalações e o brasão especial, que podem ser encontrados em álbuns de capa dura e normal.
No posto de troca da Vila Bianchi, basta ficar apenas alguns instantes para notar que a troca de figurinha não se restringe apenas a crianças. São jovens, adolescentes, adultos, e até idosos, em momentos que unem desconhecidos, criam vínculos e levam um clima de união entres inúmeras pessoas.
“Eu vim por causa do meu sobrinho, estou aqui ajudando ele. O mais legal de tudo isso é a amizade, faz a criança pensar. Eu mesmo já corri a praça inteira em busca da figurinha que ele ainda não tem”, frisou Sidnei Leite Ferreira. Seu sobrinho, Guilherme Leonardo Leite, mal falava enquanto conferia de dedo em dedo as figurinhas que havia acabado de conseguir. “É muito legal, eu adoro”, contou.
Os irmãos Giuseppe e Giácomo Guarnieri andavam por todos os lados da praça em busca das figurinhas. O sistema de troca seguido por eles é utilizado por diversos colecionadores. Qualquer jogador é trocado por outra figurinha, situação diferente dos brasões das seleções, especiais e brilhantes. Esses são trocados por duas ou até mais figurinhas comuns. “Aqui você faz amizades, brinca, troca de figurinha. É muito gostoso”, disse Giácomo.
“Você perde a vergonha, interage, é muito legal”, explicou Vinícius Miguel, amigo de Giuseppe e Giácomo.
Xô timidez!
As amizades criadas são tantas, que a troca de figurinhas serve até para espantar a timidez das crianças. É comum notar no posto de troca, jovens ao lado dos pais, muitas vezes sem jeito, que logo mudam de expressão. Sorrisos e a frase “você tem para trocar?” se tornam natural em instantes.
O representante comercial Julio Cesar Sammazzaro, que acompanhava o filho Enzo, e o sobrinho José Pedro, deu início a coleção há 40 dias, e viu no posto de troca uma maneira de completar mais rápido seu álbum. Cerca de 60% das figurinhas foram adquiridas no local.
“Acho válido o contato com pessoas, eles ocupam a mente com coisas interessantes. Esse interesse cultural da figurinha com a informática aproxima as pessoas. Aqui (posto de troca) a integração da família é válida, a timidez fica por conta dos pais mesmo”.
Esposa de Julio, Daniela Teodoro também destaca essa troca de experiências. “O mais legal é a interação das crianças e as novas amizades que estamos fazendo. A troca faz as crianças terem essa experiência nova”, destacou.
Bancas comemoram sucesso
Para se ter uma ideia da mania que o álbum se tornou, bancas de Mogi Mirim consultadas pela reportagem afirmaram ter vendido entre 10 e 30 mil pacotes de figurinhas, e entre 500 e mil álbuns. Tudo em um mês e meio.
Proprietário de uma banca de jornais no bairro Nova Campinas, em Campinas, o mogimiriano Eduardo Afonso Manco, comemora o sucesso de vendas. Até a última segunda-feira, ele havia comercializado 76.459 mil figurinhas e 535 álbuns. “Esperava vender bem, mas nem tanto. Hoje é difícil achar quem não colecione”, comemorou.
Fora de campo, a Copa do Mundo no Brasil já é um sucesso. Pelo menos ali, o hexa está garantido.