sábado, novembro 23, 2024
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Alice perguntou ao coelho: “Qual estrada devo seguir”?

Tem coisa mais comum que ouvir alguém falando “Ele quer fazer pelo filho tudo aquilo que não teve!”. Normalmente este tipo de comentário está relacionado a coisas materiais como brinquedos e roupas “de marca”. Afunilando um pouco mais temos o grupo que se refere a oportunidade. “Darei ao meu filho as possibilidades que eu não tive, ele será um advogado”, orgulha-se o pai.

Lá embaixo, naquele caninho bem estreito, pouco trazido a consciência pela grande maioria das pessoas, está guardado o sentimento. Queremos fazer nossos filhos se sentirem como nós gostaríamos de termos sido tratados. E é aí que o bicho pega de verdade.

Explicando melhor, a gente tenta colocá-los para percorrer o caminho que gostaríamos de ter percorrido. Só que, mesmo sendo filho, dificilmente a forma de ver a vida é a mesma e aí tá feita a quizumba.

Talvez seja este o principal motivo de os acharmos tão ingratos às vezes. Quem é mãe e nunca blasfemou sobre não ter seu valor reconhecido que atire a primeira pedra. Não sei quantas vezes já cheguei em casa correndo na hora do almoço no sábado, depois daquela gincana de sair do trabalho, às pressas, parar para comprar uma marmita e, ao abrir a porta, perceber que a galera está tomando o leite do café da manhã.

Na minha imaginação, o ideal é que a mesa estivesse posta e todos com sorrisos de gratidão, prontos para bons momentos em família enquanto reconhecem todo meu esforço por ter acordado cedo, trabalhado e ainda ter voltado com o almoço pronto.

Sabe quando isso aconteceu de fato? Umas três ou quatro vezes na vida porque dias antes tive um daqueles ataques histéricos então, para evitar que eu dê novo show, a galera se esforça em tampar o sol com a peneira.

O sábado de valor para os adolescentes lá de casa é aquele em que podem dormir até o sono acabar. Depois de enjoar de ficar na cama zapeando no celular, levantam calmamente, seguem até a cozinha completamente desprovidos de pressa e assim que acabam de se alimentar, pensam em fazer nada por mais um tempo.

Morei com minha avó até os 13 anos. Na casa dela, as refeições eram sagradas e não havia comida requentada. Quando fui para a casa da minha mãe a situação mudou completamente. Além de trabalhar fora, ela não tem nem gosto e nem habilidade pela cozinha. Até hoje, troca o almoço por uma fruta ou qualquer outra coisa. Foi confuso para mim me adequar, chegar da escola com fome e não ter as panelas com comida quente sobre o fogão.

Conseguiram entender que comida fresca é um valor para mim? Percebem que para meus filhos o valor é a paz? Sendo assim, sentirão muito mais acolhidos, respeitados e amados se eu chegar de mãos e panelas vazias, porém tranquila, apta a deixar que sigam o próprio ritmo. Mais que isso, que sigam o próprio caminho.

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