Ex-volante de grandes clubes como Grêmio e Vasco, além de passagem pelo futebol japonês, Carlos Rafael do Amaral já viveu a fase de menino sonhador com o futebol profissional. Nas escolinhas da Prefeitura, ralou em busca do objetivo até ganhar o empurrão do professor Luiz Faez, responsável por levá-lo ao Paulista, de Jundiaí, onde fez um teste e iniciou sua trajetória. Hoje, aos 34 anos, Amaral vive o outro lado da moeda e comanda, em parceria com Pedro Gonçales, o Polaco, a escolinha Nosso Craque, no Mirante, onde administra o sonho de dezenas de garotos que buscam trilhar uma carreira no concorrido mercado da bola.
Inaugurada em novembro de 2016, a escolinha já tem mais de 120 alunos, de quatro a 16 anos. As categorias são baby foot, sub-10, sub-12, sub-14, sub-16 e feminina.
Em nova rotina, Amaral passa praticamente o dia todo na nova casa, com aulas de segunda-feira a sábado, nos três períodos. “É gostoso, as crianças são educadas”, festeja.
Entre os alunos estão filhos de pais que o acompanhavam na época de jogador e outros que já haviam trabalhado com Polaco na escolinha do São Paulo e o seguiram no novo projeto.
Como já viveu esta experiência, Amaral se coloca no lugar dos meninos e investe em estrutura, pois sabe desta importância. “Eu sempre gostei de acordar cedo, chegar no clube onde se tem bola nova, colete novo, cone, estaca, gol, material. Você acordar cedo e vir treinar, ter uma bola ruim, uma ou duas bolas só… Se tem uma qualidade ruim, a criança acaba desanimando e não desenvolve nada”.
A base de Amaral foi no Paulista, na época de Parmalat. “Lá eu tinha tudo para poder trabalhar tranquilo”, relata, contando que sempre acompanhou a base dos clubes. No Criciúma, com Vadão, fez palestras para os juniores e juvenil. “Eu já estava pensando em ser treinador e trabalhar com criança. E quando eu jogava, eu saía do estádio e minhas camisas, eu procurava dar sempre pras crianças. São crianças que não têm maldade. Então, eu quero formar crianças assim”, revela.
O agora professor diz observar se os alunos estão indo à escola. Se não estiverem, conversa com os pais e os filhos podem até ficar um tempo sem treinar até se acertarem nos estudos.
Contra ilusões, Amaral foca desenvolver garotos
Diante da expectativa de pais em verem os filhos brilharem como atletas, o volante Amaral busca não criar ilusões e argumenta ter como objetivo inicial desenvolver a disciplina e a capacidade para depois avançar estágios. “Nós não podemos dizer hoje que um menino de cinco, sete anos, vai ser um jogador profissional. Lá na frente, se tiver um jogador de qualidade de 13, 14 anos, a gente vai fazer parcerias para levar para fazer uma avaliação para realizar o sonho das crianças também”, destaca.
Embora priorize a disciplina, Amaral desenvolve a mente do atleta para criar um profissional, além do trabalho técnico, e se preocupa em não inibir a criatividade. “A gente tem que desenvolver a criança primeiro, lá pra frente ela vai colocar pra fora seu dom. Nunca vamos tirar a criatividade delas, vem de dentro e eles vão colocar pra fora a qualquer momento”, observa, lembrando que já desenvolve a parte tática de acordo com as funções, mas com maior ênfase nas categorias maiores. Já o aspecto técnico é trabalhado com coordenação e fundamentos.
Por outro lado, Polaco procura trabalhar a ansiedade dos meninos. Curiosos, eles perguntam sobre o mundo do futebol. “Eles veem Neymar, Cristiano Ronaldo, Messi, pensa que futebol é uma maravilha. A gente explica que tem que se dedicar bastante, prestar atenção no que o professor está passando”, frisa Polaco, que se preocupa com os atletas entenderem que as coisas não são fáceis como parecem, especialmente para os habilidosos. “Hoje tem que jogar e sem a bola marcar. Tem jogador com habilidade que não gosta de treinar, acaba parando no meio do caminho”, indica.
Amaral se espelha nos técnicos Levir Culpi e Oswaldo de Oliveira no quesito amizade com os jogadores. “A criança chega, a gente tem que abraçar, tem que ser amigo para que a criança não fique assustada, não tenha medo”, justifica.
No aguardo
Aos 34 anos, Amaral ainda não encerrou definitivamente a carreira de jogador. Em 2017, recebeu convites que não lhe agradaram pela estrutura e expectativa de inadimplência. “Times que não pagam, que não têm estrutura, campo. Tanto tempo que eu já joguei, agora final de carreira, vou sofrer? O sofrimento tem que ser no início. No meu começo, eu já ralei muito”, ressalta.
Agora, para aceitar uma proposta, somente se surgir algo muito interessante e que não prejudique a escolinha. “Eu conseguindo colocar outro professor para acompanhar o Polaco, primeiro conversar com os alunos e os pais…”, explica o atleta, que mantém a forma treinando durante a semana e atuando no futebol amador. Na Copa Rural, jogou pelo Pombal e vai disputar o Amador pela Tucurense, além de atuar em Jundiaí e São João da Boa Vista.
Polaco idealizou a parceria
Novo espaço de Amaral, a escolinha Nosso Craque, localizada no Gonçalves Avenida Society, no Mirante, surgiu por uma união de pensamentos e coincidência de fatores. Quando Amaral voltou do Passo Fundo-RS, soube do projeto do empresário Maurício Gonçalves de inaugurar um campo de futebol society e do desejo de Polaco, que era técnico da escolinha do São Paulo, ter sua própria escola. Polaco havia sido convidado por Maurício para tocar o projeto e lembrou de Amaral, com quem jogava futevôlei, até pela imagem positiva do jogador. “A escolinha está dando certo, além do que a gente esperava”, comemora Polaco, que revela ter aprendido muito nos tempos de escolinha do São Paulo, onde fez cursos no CT de Cotia. “A gente tem que estar sempre nos atualizando, com treinos novos”, aponta Polaco, que além de ser sido atleta, trabalhou como técnico de base na Coreia do Sul.
Amaral e Polaco atuam como técnicos em conjunto e compartilham o perfil de valorização do diálogo. Ambos também fazem a preparação física, embora o preparador oficial seja Alexsander Moraes, o Tandy, que está concluindo Educação Física. Amaral e Polaco também pretendem cursar Educação Física, mas já possuem a carteira do Crefi, Conselho Regional de Educação Física.
Matrículas
Os alunos têm direito a fazer uma ou duas aulas experimentais. Em seguida, é feita uma ficha de matrícula e pedido o exame médico. Na matrícula, são pagos R$ 60. Após um mês, começam a ser cobradas as mensalidades de R$ 75. À parte, é vendido o kit, com meião, calção e a camisa. Já realizando amistosos em outras cidades, a Nosso Craque, em breve, irá estrear em competições.