No último capítulo de suas histórias no Boteco, o volante Amaral recorda a despedida do meia Kagawa quando jogavam juntos no Cerezo Osaka, do Japão, e revela os dois momentos mais marcantes de sua trajetória como jogador.
Boteco– Alguma história engraçada no Japão?
Amaral – Eu lembro da despedida do Kagawa, quando foi vendido pro Borussia, fomos a uma churrascaria brasileira. Eu, Martinez e o Adriano, que jogou no Gama. E nós com intérprete. “Agora vamos pra discoteca”. Eu pensei: “mas pra discoteca, japonês e só nós de brasileiros, vai dar problema”. Porque japonês quando bebe não dirige, deixa o carro onde está. E vamos caminhando pelo centro de Osaka. Deixamos o carro e os caras pegaram o saco de lixo na rua e deram pro Kagawa carregar.
Boteco– Porque já estavam todos meio chapados?
Amaral – É, eu não bebia no Japão, porque fui para um país que não era minha cultura. Só brindei porque dizem que se não brindar é falta de respeito. Aí deram o lixo nas costas do japonês. “Você vai até a discoteca com o lixo”.
Boteco– Gente boa o Kagawa?
Amaral – Gente boa, bebe e fuma que nossa. Aí foi até a discoteca com o lixo. O segurança: “não pode entrar (com o lixo)”. Deixou lá. Aí festaiada. Eu lembro que eu falei pro intérprete: preciso ir, minha esposa está com os filhos lá.
Boteco– A cerveja de lá é muito diferente?
Amaral – Eu não cheguei a experimentar, mas eles pegavam de jarras gigantes. Aí eu: “vamos embora”. “Vamos procurar o Adriano”. “Mas, cadê”. Eu lembro que olhamos para trás, a discoteca inteira dançando, passinho daqui, dali. “Você não vai acreditar. Olha o Adriano em cima do palco”. Atacante nosso dando dança pros japoneses. Aí eu lembro que eles faziam muito jantar e karaokê. Os japoneses eram f… Eles pegavam os mais novos, aí quando os mais novos iam começar a cantar, eles vinham com a jarra de cerveja. Jogava em cima da cabeça dos mais novos. Mas a maior história que me marcou: A gente foi ver um jogo Japão e Honduras, eu, as crianças, minha esposa, os outros jogadores brasileiros. E sentamos na arquibancada, o estádio cheio. Final de jogo, estádio inteiro virava e olhava pra nós. Foi em Osaka. Aí começou aquele formigueiro. “Amaral, Adriano”. Reconheceram nós. E pra sairmos do estádio? Eles queriam tirar foto com as crianças. Pegar no braço da gente, apalpar. Eu lembro que eu estava encharcado de suor e a gente não conseguia andar, amontoou. Aí a segurança do estádio fez um corredor e colocou a gente em uma sala. Era multidão. Aí tivemos que esperar limpar o estádio, a estação de trem. Foi um dos casos mais marcantes. Esse e um do Criciúma. Eu estava no mercado com minha esposa e chegou um moleque com Síndrome de Down. E falou meio enrolado: “Amaral”. Eu: “oi, tudo bem?”. E ele: “tudo bem, posso te dar um abraço”. Eu falei: “lógico que você pode me dar um abraço”. Aí ele me abraçou: “sou muito seu fã”. “Posso dar outro abraço?”. “Pode”. Aí um cara já aproveitou: “me dá licença, mas vou ter que filmar”. Aí o cara filmando e o moleque começou a ficar nervoso, querendo que eu assinasse a camisa dele. “Nossa, mas eu não tenho caneta”. E o cara que tava filmando correu no caixa, pegou uma caneta, eu autografei e o moleque saiu correndo pros pais. E o cara que tava filmando me cumprimentou: “fiquei arrepiado, parabéns pela atitude de ser paciente, ter alegria com o moleque”. Me deu um abraço também. Aí eu saindo, o menino, com os pais, me viu de novo e me deu mais um abraço. Aí o pai me cumprimentou. No Japão eram milhares e nesse foi um que valeu por milhares, o amor que o moleque tem no coração, muito maneiro.
Boteco – Valeu, Amaral!