sábado, novembro 23, 2024
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Ameaças cercam o pleito

Por Gaudêncio Torquato*

O que o TSE pode fazer para evitar o uso da máquina pública e a antecipação de campanha eleitoral? Para começar, definir limites entre função administrativa e função eleitoreira. Os espaços entre ambos se imbricam, mas é possível distinguir palanque eleitoral de canteiro de obras. Não dá para enganar. Mas tal definição não serve como imunizante para preservar o pleito de ondas corruptivas que costumam inundar os vãos eleitorais.

Analisemos. As eleições deste ano serão as mais ancoradas em dinheiro dos últimos tempos. Os cofres partidários estarão abarrotados com os recursos públicos do fundo eleitoral, cuja previsão é de cerca de R$ 5 bilhões. As margens serão contempladas com o programa Auxílio Brasil, que terá R$ 89 bilhões, além do Benefício de Prestação Continuada e a Renda Mensal Vitalícia, que pagam um salário-mínimo aos idosos e às pessoas de extrema pobreza. Os pacotes constituem a “bengala eleitoral” do presidente, com a qual pretende conquistar regiões carentes.

Significa que, mesmo em uma economia depauperada e sofrendo uma pandemia sem previsão de final, o Brasil entrará numa “farra eleitoral”, deixando ao largo compromissos com as metas de controle de gastos e crescimento.

Acreditávamos no aperfeiçoamento do processo eleitoral, a partir da abolição das coligações proporcionais, artifício que propiciava a escolha de candidatos sem expressão, puxados por perfis de densos estoques de votos. Mas uma janelinha foi aberta para permitir a continuidade de siglas ameaçadas de extinção. Criou-se a federação de partidos que vai funcionar como um teste para eventuais fusões ou incorporações. Os partidos de poucos votos serão arrastados pelos grandes.

Doações serão permitidas. O desgastado modelo de propaganda eleitoral voltará a buzinar em nossos ouvidos. Fulanos, sicranos e beltranos(as) desfilarão um rosário de promessas, sem atentar que a comunidade política não quer mais ser azucrinada. A crise política, que se finca nas estacas da franciscana modelagem do “é dando que se recebe”, acabou produzindo um antivírus que combate a demagogia, o populismo e as falsidades.

Candidatos abusarão da internet, massificando mensagens pelas redes sociais, desconhecendo que uma comunicação bem-feita é aquela que consegue interação entre os polos emissor e receptor. Sem diálogo, não haverá internalização das propostas. E, apesar dos cuidados do Tribunal Superior Eleitoral para conter a onda de fake news, com retirada de mensageiros mentirosos do sistema, veremos uma campanha cheia de versões, meias verdades, acusações e denúncias. Será a campanha mais mentirosa de nossa história.

*Gaudêncio Torquato é jornalista, escritor, professor titular da USP e consultor político.

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