Quando a Gabi nasceu, eu olhava embriagada aquele ser tão pequeninho no berço do hospital. Foi maluco reconhecer a mistura de traços, a representação física do milagre que é gerar outra pessoa, tão rica em detalhes, dentro da gente. Por ser a primeira filha, neta, bisneta… Tudo foi “uau”.
Assim segui me apaixonando, boba, enfeitiçada por cada pedacinho daquele corpo e cada comportamento. O primeiro sorriso, as gracinhas, quando começou a sentar, a falar, a andar…Tudo, absolutamente tudo, entusiasmava. Dentro de mim, só pensava em que momento tudo isso passaria, quando ia perder a graça.
Pouco tempo depois, engravidei do Neto e, embora programado, fui tomada por um medo enorme de não gostar dele. Tudo tinha sido tão sensacional com a Gabi, que achava que nunca mais seria capaz de gostar de alguém daquele tanto. Juro que passei a gravidez muito preocupada com isso. Não seria possível viver nada parecido com aquilo de novo.
Ledo engano! Se existe uma pessoa que é a materialização do amor, essa pessoa é o Neto. Até hoje, com quase o dobro da minha altura rsrs, ele nunca sai ou chega perto de mim sem me abraçar e beijar, não importa quem esteja por perto.
As vezes estou o levando para algum lugar, vou o caminho inteiro esbravejando por aquelas coisas básicas tipo estudar, manter o quarto em ordem e outras coisinhas mais, e, não importa, posso estar roxa de raiva, ele consegue soltar um “te amo, mãe”, meio sem jeito.
O fato é que o eterno apaixonar-se pelos filhos não passa nunca. Vai mudando, mas não deixa de acontecer diariamente. Passa pelas letras espelhadas na alfabetização, a desenvoltura no palco nas apresentações de jazz, na dedicação ao esporte, nas coisas mais cotidianas.
Hoje me emociono com a forma com que lidam com o mundo, o posicionamento diante dos acontecimentos da vida. Fico só admirando como chegam às próprias conclusões, a quantidade de assuntos que se arriscam e, principalmente, a forma como tratam as pessoas.
Já vi devolverem dinheiro graúdo a um morador de rua sem titubear por um segundo sequer. Também já vi pagar pastel a uma catadora de latinhas batendo papo como quem faz com um amigo. Parece tolo e talvez o mundo devesse ser assim, mas não é.
No fundo, talvez, essas sejam apenas desculpas bobas. O fato é que os amo só pelo fato de existirem e, ainda que enxergue imperfeições (e tenha vontade de apertar o pescoço bem forte às vezes rsrsrs), nada me entusiasma mais que dividir a vida com eles.