Quero falar sobre o perceber-se amado. Sabe quando a pessoa que você convive ama aquilo só por que você ama? Parece discurso de adolescente né, do tipo “a cor dele preferida é branca porque é a minha também”. Mas é muito mais profundo e eu tenho a alegria de sentir isso!
A minha avó tem 82 anos, é lúcida, porém, praticamente não enxerga e não escuta. Minha mãe engravidou adolescente e foi minha vó quem cuidou de mim até os treze anos. Hoje sou eu quem a levo no médico, quem socorre nas faltas de ar e a pessoa que ela confia na hora de pedir ajuda.
Nossa relação é linda, mas nem sempre cheia de flores. É claro que às vezes ela precisa de mim no meio do expediente, na madrugada e é claro que isso me consome em alguns momentos. Como a maioria dos idosos, tudo com ela é trabalhoso, leva tempo e precisa de calma.
Com meu interno em chamas, com o relógio correndo rápido, ela me pede para comprar um pé de alface, logo eu que sou a rainha da praticidade e faço compra online de pré-lavados. Mas, é aí que normalmente a mágica do receber muito mais do que dar acontece.
Quando eu volto para os meus, às vezes vermelha de nervoso, eles me recebem com aconchego. Quando eu reclamo que estou cansada, eles olham bem lá dentro da minha alma e me fazem entender que eu não faria diferente, pois, por mais que meu ego queira, eles conhecem meu coração.
E vai além. Fisicamente, quando estão perto dela, eles a ouvem, auxiliam, se preocupam. Eles repetem a mesma história nas “cinco vezes” que ela pergunta e dão na mão tudo o que achar que é novidade de comer e que ela vai gostar.
Não sei definir o que sinto quando vejo a Gabi, adolescente, grudada nela nas festas, porque sabe que ela não escuta e precisa de alguém que fique traduzindo de uma forma que ela ouça. Quando o Alisson atravessa a cidade inteira porque ela quer pão fresco e ele vai mostrar qual “o melhor pão da cidade”.
Eles amam quando eu não consigo mais e eles amam porque é precioso para mim. Considero que eu tive a felicidade de conhecer o amor de verdade.