O Brasil é um país abençoado por Deus e bonito por natureza, como diz a canção. Não temos tornados, vulcões ativos, maremotos, terremotos, tsunamis. Porém, nos últimos tempos, são tantas notícias trágicas, que não nos surpreendemos mais. Vai dos crimes ambientes que levaram centenas de vidas como em Mariana (MG) e Brumadinho (MG) até a morte pelas mãos de oficiais do Estado de Genivaldo, em uma viatura transformada em cabine de gás e tortura.
Vai dos milhares de assaltos e mortes pelas mãos do crime organizado. Da polícia que cada vez mais mata e que cada vez mais morre. De atentados como ao ônibus em Piracicaba (SP) aos casos de estupro das meninas de 10 e 11 anos do Espírito Santo e de Santa Catarina e que se tiveram o direito legal ao aborto negado por mãos que desrespeitam a Constituição e o Estado Laico.
É o mesmo país em que alguns dizem lutar pela vida de fetos, frutos de estupro, mas que viram as costas às mortes de crianças negras nas favelas, de jovens quilombolas no Maranhão ou de adolescentes indígenas no Mato Grosso ou na Amazônia. Assistimos o caso do jornalista Dom Phillips e do indigenista Bruno Pereira convictos de que o sumiço significava assassinato por sabermos que há políticas públicas que incentivam criminosos a garimpar e desmatar de forma ilegal e dentro de territórios que deveriam ser preservados pelo Estado.
Vemos pastores colocarem o próprio rosto em bíblias e profanarem o mandamento que diz “Não Matarás” ostentando arma de fogo em aeroporto. Vemos igrejas usadas como balcão de negócios e propinas em barras de ouro. E vemos ataques a um padre que abre as portas de outra igreja a moradores de ruas, abandonados à própria sorte no Centro da maior cidade da América Latina.
Uma área que vê crescer o número de usuários de drogas e também de famílias que são despejadas ali simplesmente porque as condições financeiras atuais, de um país em pura crise, os empurram a roer o osso e a abandonar seus lares, vivendo a céu aberto. Assim como aberta é a vida de pessoas que seguiram os trâmites legais, clamando para que seus pesadelos fossem mantidos em segredo (até de Justiça).
A atriz estuprada que resolveu ter e doar o bebê fruto desse vomitativo crime fez tudo dentro da lei. E do que julgou ser o certo para ela. Afinal, é o corpo dela. Como de tantas e tantas mulheres que parecem ter cometido um único crime: ter nascido mulher. Como foi com Mari Ferrer. Como é com tantas anônimas que sofrem nas mãos de um país herdeiro de um patriarcado cruel e misógino. O que aconteceu nos últimos anos para que casos que deveriam gerar simples empatia com o próximo se tornassem alvo de divergência?
Como pode a mira das armas se virar contras as vítimas? Ainda vivemos em um país em que pessoas são atacadas por viverem um amor diferente daquele que outros entendem ser o normal. O normal é amar. Cada vez mais parece óbvio que faltou aos idealizadores da bandeira nacional respeitar a visão total do positivismo que levou ao lema “Ordem e Progresso”. Afinal, Augusto Comte disse: “Amor por princípio e a ordem por base; o progresso por fim”. O amor também é um princípio religioso.
É o foco do cristianismo, do judaísmo, do islamismo, budismo, umbadismo, etc, etc e etc. Mais uma vez, no primeiro dia após o fim do “Mês dos Namorados”, usamos o nosso espaço para clamar à população para que tenha empatia com o próximo. Ame quem pensa igual a você, mas ame também quem vê o mundo de outra forma. O amor é antídoto contra a anestesia que nos paralisou diante de tanto ódio e de tantas tragédias.