Quem aí não fala em “correr atrás do tempo perdido?”. Pois é, nem sempre é possível. E nem sempre é sobre algo que não tivemos. É possível construir novos trajetos e não há idade limite para isso. Aparecido Zacharias dos Santos é morador do bairro Sol Nascente e, faça chuva ou faça sol, está com as corridas em dia.
Esta prática esportiva não entrou em sua rotina tão cedo. Na verdade, foi após os 60 anos. Em 2010, o professor de educação física, Rodrigo Rosa, ministrava aulas para alunos da melhor idade, no bairro em que Aparecido reside desde 2003. E avisou ao pessoal que, em março daquele mês, aconteceria os, à época, chamados Jogos Regionais do Idoso (JORI).
Aparecido foi até Pirassununga, correu e até começou bem. Depois, as pernas cansaram e a falta de preparo o fez ficar em último lugar. Aquilo mexeu com o policial militar aposentado. “Prometi pra mim mesmo que, no ano seguinte, em 2011, eu faria melhor”. E, em 2011, foi quando começou a correr de verdade, treinar bastante e participar de tudo. Já tinha, no caso, 67 anos.
Desde então teve início uma saga que rende números e feitos impressionantes. Tudo documentado. Nestes pouco mais de 10 anos, são 283 corridas tradicionais e mais 88 virtuais, formato que ganhou força a partir de 2020, por conta da pandemia de Covid-19. “Eu corri 283 corridas de rua até dezembro de 2020, e mais 66 virtuais, deu 349 corridas. E, em 2021, mais 22. Eu corri 371 corridas”.
E tem, até o momento, 371 medalhas, que também estão devidamente guardadas em sua casa junto aos 42 troféus conquistados. Até a quilometragem percorrida nestas provas está guardada. Foram 18.438 quilômetros até dezembro de 2020 e, neste ano, mais 2.059 quilômetros. Desta forma, apenas em corridas, são 20.497 quilômetros. Nada mal para quem começou a fazer esta conta aos 67 anos. Além disso, disputou provas em 60 cidades diferentes, sendo 44 em São Paulo, 14 em outros estados, como Minas Gerais, Rio de Janeiro e Pernambuco e duas provas fora do país, as maratonas de Buenos Aires, em 23 de setembro de 2018, e a Maratona de Nova York, em 13 de novembro de 2019.
Destas 371 corridas, 359 com percurso inferior a 30 quilômetros. As demais, maratonas. Ou seja, 42.000 metros de corrida. Além das duas citadas, no exterior, ainda fez quatro em São Paulo, duas em Campinas, uma no Rio de Janeiro (RJ), uma em Curitiba (PR), uma em Porto Alegre (RS) e outra em Florianópolis (SC).
Desde fevereiro de 2020, porém, está sem ir a uma corrida normal, com os concorrentes ao lado. “Depois, começou a pandemia e, com as corridas de rua canceladas, passei a fazer corridas virtuais. E para garantir bons desempenhos, a rotina é intensa. Aparecido treina bastante, de 13 a 16 quilômetros, quatro vezes por semana.
E toda esta vida nova, construída após os 67 anos, passou a ser registrada em 2011. Aparecido foi marcando os treinos e corridas, com distâncias e resultados, em cadernos e o trabalho virou até livro. “Tenho tudo anotado das minhas corridas, treinos, desde o dia 14 de março de 2011. Utilizando tudo anotado nos cadernos, meu filho fez um livro”.
Nas páginas, as marcas de uma vida corrida. Entre as 12 maratonas executadas, a mais rápida, foi a de Campinas, em 19 de julho de 2015, quando anotou o tempo de 4h34min53seg.
Quanto às competições, já esteve nove edições da popular São Silvestre e, na Volta ao Cristo, das oito vezes que participou, foi o primeiro colocado em janeiro de 2014, na categoria de 70 a 74 anos.
Há ainda 10 participações nos atuais JOMIs (Jogos da Melhor Idade), a competição que deu início a esta saga. A uma viagem de mais de 20 mil quilômetros, realizada passo a passo, por este verdadeiro Forrest Gump de Mogi Mirim.
Inspiração aos mais jovens
Aparecido Zacarias nasceu em Gália, na região de Bauru. Aos cinco anos, os pais se mudaram para Santo Anastácio, próxima a Presidente Prudente, e já adulto, em 1968, se mudou para a Capital. Em São Paulo ingressou na então Força Público do Estado, a atual Polícia Militar.
Trabalhou por 30 anos, indo de soldado a capitão, patente que ostentava ao se aposentar, em 1998. Um período depois, em 2003, após o filho caçula se casar, decidiu deixar a “Cidade Grande” e voltar ao interior e Mogi Mirim foi a escolhida, ao adquirir uma chácara, na região do Sol Nascente.
Hoje com as atividades completamente inseridas na rotina, Aparecido é firme ao cravar o que o motiva a percorrer grandes distâncias. “É a paixão. Gosto muito de correr e sem contar que faz muito bem à saúde e ao bem estar da gente”. Disto, não dá dúvidas. Assim como ninguém questiona que o aposentado, de 77 anos, é espelho pra muita gente. “Modéstia à parte, eu estou servindo de inspiração para pessoas mais jovens. Muitos sobrinhos, parentes meus, garotada, jovens, netos, já estão começando a fazer corrida de rua se inspirando em mim mesmo”, garante.
