Depois de 42 anos consecutivos em uma das divisões do Campeonato Paulista, o Mogi Mirim volta a ficar fora ao não aproveitar a oportunidade de disputar a Segunda Divisão, equivalente ao quarto patamar estadual. O último ano em que não havia disputado o Paulista foi o de 1976.
No dia 29, terça-feira, o Sapo, que não cumpriu exigências da Federação Paulista de Futebol (FPF), não participou da reunião do Conselho Técnico da Segunda Divisão e está fora da popular Bezinha. Para poder participar da reunião, os clubes precisariam se enquadrar nos requisitos de resolução da entidade. Um dos itens era o atendimento dos estádios às exigências de segurança e higiene, com os laudos técnicos aprovados, o que o Mogi Mirim não conseguiu. O Estádio Vail Chaves segue interditado desde outubro de 2017.
Alguns clubes com pendências conseguiram participar da reunião e ganharam prazo para resolver os problemas. O Mogi, porém, não teve representante na reunião. Representantes do grupo responsável pela gestão do futebol, do coreano Mário Choi e de Diego Silva, pretendiam participar da reunião, mas a ideia não se concretizou. O grupo tem a intenção de colocar o Mogi na competição, mas, em tese, depende da vontade do grupo do dirigente Luiz Oliveira, que após ter fechado contrato com Choi e Silva para terceirização do futebol, tenta anular o negócio na Justiça.
Atualmente, a presidência do Mogi na FPF é exercida pela vice-presidente Rosane Lúcia de Araújo. Para participação na Bezinha, era necessária uma assinatura de Rosane, ligada a Luiz, que hoje é opositor ao grupo coreano e, assim, não teria interesse em colaborar. Pela resolução da Federação, os clubes que não participassem da reunião ficavam impedidos de participar do campeonato. A resolução havia sido assinada no dia 14 de janeiro, sob a justificativa de que os clubes soubessem dos requisitos com antecedência para estarem aptos na reunião.
Com início marcado para 7 de abril, o certame é denominado Campeonato Paulista Sub-23 de Futebol Profissional da Segunda Divisão, em função dos clubes poderem utilizar apenas jogadores nascidos a partir de 1996.
Em 2019, o Mogi já estava sem o direito de disputar competições nacionais por não ter conquistado o acesso à Série C do Brasileiro em 2018 e não ter vaga na Série D.
Rosane é a presidente em exercício do Mogi Mirim
Na Federação Paulista de Futebol (FPF), Rosane Lúcia de Araújo, a vice-presidente da gestão de Luiz Oliveira no Mogi Mirim, é considerada a atual presidente em exercício do clube, conforme aponta o site da entidade.
Em 2017, o então vice-presidente Vantuires Oliveira chegou a constar no site da FPF como presidente em exercício quando Luiz havia sido suspenso pelo Tribunal de Justiça Desportiva da entidade em função de dívidas com taxas.
Questionada por O POPULAR sobre o motivo de Rosana ser a presidente em exercício, se Luiz teria sido suspenso, a Federação não respondeu. O POPULAR tentou contato com Luiz, sem sucesso.
Opositores do dirigente também tentam descobrir o motivo de Rosane ser a presidente, mas esbarram na falta de resposta da FPF. Uma suspeita é que poderia ser uma determinação da CBF à FPF em virtude de um procedimento ter sido instaurado pelo Comitê de Ética da entidade nacional para apurar a conduta de Luiz. O POPULAR questionou as assessorias da CBF e FPF sobre o tema, mas não recebeu resposta.
Fator financeiro justificou ausência do Sapo em 1976
No último ano em que o Mogi Mirim não havia disputado o Campeonato Paulista, em 1976, a justificativa do então presidente do clube, Vladimir Brunialti, foi financeira.
O clube abriu mão de disputar a Segunda Divisão, denominação na época da Terceira. Em 1976, a Primeira era denominada Especial e a Segunda tinha o nome de Primeira. Reportagem do jornal A Comarca da época aponta que Brunialti garantiu que as razões eram, exclusivamente, financeiras, pois os diretores entendiam ser uma aventura disputar o campeonato sem condições. Brunialti frisou as rendas baixas no estádio, com prejuízo, pois raramente se conseguia 2 mil cruzeiros e somente o pagamento da arbitragem era de 3 mil. Na ocasião, se disse tranquilo quanto ao futuro, pois havia licenciado o time. Fora do Estadual, o Mogi disputou campeonato de futebol amador da cidade.
A crise entristecia torcedores, principalmente pelo clube ter vivido momentos de destaque especialmente com o esquadrão de 1970, que chegou a conquistar a primeira série da Segunda Divisão, a Terceira, e caiu nas semifinais.
Em 1977, o Mogi retornou ao Estadual, pela Quarta Divisão, na época chamada de Segunda. Em 1978 e 1979, na gestão de Ernani Gragnanello, pai do ex-vereador Ernani Luiz Gragnanello, o Sapo disputou a Quinta Divisão, denominada Terceira. Foram as duas primeiras edições do quinto patamar estadual, que não existe mais desde 2005. De 2001 a 2003, a FPF chegou a ter 6 divisões.
O Mogi disputou seu primeiro Paulista em 1954, na Terceira Divisão, denominada Segunda, em sua primeira experiência profissional. Em 1959, se licenciou da FPF e voltou na Terceira de 1970. Após ficar fora, em 1976, voltou em 1977. Em 1980, a FPF formou apenas 3 divisões e o Mogi, na gestão de Antonio Guerreiro, o Tonicão, voltou ao terceiro patamar. Na gestão Wilson Barros, chegou ao segundo patamar, em 1982, e, em 1985, conquistou o acesso à elite. O primeiro Paulista da Era Rivaldo foi o da elite de 2009. Na gestão Luiz Oliveira, o Mogi teve 3 quedas no Paulista, a partir de 2016, caindo da A-1 até a Bezinha.
Em 79, Mogi quase ficou fora e jogou no Tucurão
Em 1979, o Mogi Mirim esteve perto de repetir a ausência de 1976, devido a problemas com o Estádio Vail Chaves, mas acabou participando do Paulista da denominada Terceira Divisão, a Quinta Divisão estadual, mandando todos seus jogos no Estádio Distrital Ângelo Rottoli, o Tucurão.
Enquanto vivia o risco de ficar fora, a situação era tão delicada que A Comarca estampou como manchete: “O Vail Chaves acabou junto com o futebol de Mogi Mirim”. A matéria falava do orgulho que time e estádio davam à cidade.
“Infelizmente, isso é passado, e hoje, nem mesmo existe a lembrança do que foi o futebol de Mogi Mirim, podendo-se afirmar, sem medo de errar, que ele morreu”. Uma reportagem ainda criticou a falta de união da comunidade.
Havia o temor do Mogi não participar por problemas com o Vail relativos ao gramado, que estava deteriorado e em reformas, à estrutura, com rachaduras nas colunas de sustentação, e ao impasse no convênio com a Prefeitura no que tange à administração do local. Outro temor era pelo fato de, em 1978, a campanha do Sapo ter sido vexatória.
Reportagens de A Comarca da época lembram que o Mogi cometeu irregularidades e ficou em último lugar após perder pontos de 8 jogos por usar atletas sem condição de jogo.
Reportagem de A Comarca, sobre a estreia do Mogi em casa contra o Corinthians, de Casa Branca, relata que o público pagante no Tucurão foi de 110 pessoas, mas houve estimativa da presença de cerca de 400 torcedores.