O Mogi Mirim Esporte Clube ainda tem indefinições em seu cenário político-administrativo. A agremiação está sem representantes diretivos legais desde o final do ano passado e um processo que tramita na Justiça pode definir a situação nas próximas semanas. Mas, existem outras situações definidas há mais tempo.
Os mais recentes gestores do departamento de futebol do Sapão da Mogiana não possuem mais vínculo com o clube. Mais do que isso, seguiram novos caminhos. Marcelo Galático foi o último a se estabelecer no Estádio Vail Chaves. O empresário ligado ao universo musical, sobretudo, ao funk, assumiu a gestão do Mogi em parceria com o amigo Jaime Marcelo Conceição, ainda no primeiro semestre de 2019.
Ele seguiu com protagonismo na gestão do clube até setembro, quando Luiz Henrique de Oliveira voltou a frequentar o local. O ex-presidente do clube passou meses distante do Vail Chaves. Retornou em setembro, próximo à data de assembleia geral extraordinária agendada para destituir LHO e demais membros da diretoria. Na noite de 9 de setembro, ambos falaram juntos com a imprensa.
Em meio às decisões judiciais que, em um momento, referendaram o impeachment e, em outro, suspendeu o processo – Galático seguiu se pronunciando como gestor do clube e anunciando, inclusive, potenciais meios para viabilizar a presença do Sapo na Segunda Divisão do Paulista. Porém, neste ano, Galático tomou novo rumo. No dia 16 de março, anunciou em suas redes sociais que passou a ser co-gestor na Portuguesa Santista.
“Hoje é um dia especial em minha vida profissional. Todos que me conhecem, sabem o quanto me empenhei à frente da Galaticos Produções, para elevar a cultura do funk a um patamar de respeito perante a sociedade. Sempre procurei aliar minha produtora a movimentos sociais, como a Liga do Funk fundada por mim. Se priorizei esforços para integrar a sociedade a arte do gueto, hoje começo uma nova fase, junto ao esporte mais tradicional do nosso país. É com imensa satisfação que dou início às atividades da Galaticos Sports Soccer”, anunciou em sua página no Instagram.
Galático falou ainda sobre a passagem pelo Sapo. “Em 2019 vivi experiências de aprendizado em um grande clube brasileiro, o Mogi Mirim Esporte Clube. Lá fiz novos amigos, trabalhei com antigos. Mas, o mais importante, é que conheci a essência do futebol e decidi fazer a diferença em um mundo que precisa de empenho”, completou. O empresário ainda frisou que o projeto apresentado consiste em uma empresa de gestão e consultoria.
“Sei que teremos uma longa jornada a nossa espera, mas creio que o grande arquiteto do universo há de preparar um caminho vitorioso, amparado por muito trabalho e dedicação”. Ainda não é possível ver os resultados do trabalho em campo. A Série A2, competição que a Briosa participa, teve o último jogo realizado no dia 15 de março, um dia antes do anúncio de Galático. A equipe santista ocupa a terceira posição, com 20 pontos, dois a menos que o líder São Bernardo.
J Winners
Ainda em junho do ano passado, o empresário Jaime Marcelo Conceição anunciou a saída do Mogi Mirim. Ele chegou a anunciar a criação de um novo clube na cidade, o J Winners Futebol Clube, mas o projeto ainda não saiu do papel. O ex-lutador de MMA, porém, segue no esporte.
No começo deste mês, o goleiro Bruno, ex-Flamengo, e condenado em 2010 pelo assassinato da modelo Eliza Samúdio, publicou nota oficial no Instagram confirmando acordo com a J Winners Gestão. A empresa tem matriz em Portugal e atividades em vários países europeus. De acordo com Jaime, que agora representa o jogador, Bruno terá seu nome diretamente inscrito em um clube da Segunda Divisão carioca assim que as atividades das federações de futebol forem retomadas. A intenção, porém, é colocar o arqueiro no futebol europeu.
“Não passaremos o espaço (do clube), por respeito ao planejamento que temos para com o atleta. Sabemos que existe um enorme impacto em todas as ações que envolvem o goleiro Bruno Fernandes, mas o tratamos, assim como sua carreira, como a de qualquer atleta de nosso casting”, afirmou ao Jornal Extra. Em liberdade desde o último ano, Bruno ganhou o direito de cumprir o restante da pena em regime semiaberto.
Terceirizações em série
Desde que finalizou a participação na Série D do Campeonato Brasileiro, em maio de 2018, o Mogi viveu sob constante alternância em sua gestão. Oliveira havia terceirizado o futebol para Marcelo Granada e Alessandro Botijão. O acordo iria até o final de 2018, mas, com a queda precoce no nacional, os investidores saíram antes. Assim, foi aberto espaço para Oliveira negociar com novos parceiros.
Em 28 de maio de 2018 foi assinado um contrato de arrendamento com Diego Medeiros da Silva e Hyun Seok Choi, conhecido como Mário Choi, da HS Sports Agency. Reclamando de falta de pagamento por parte dos parceiros, Oliveira entrou na Justiça. A ação impetrada pelo então presidente e distribuída em 16 de agosto para a 1ª Vara Cível da cidade, teve decisão em caráter liminar publicado no final de setembro daquele ano.
Nela, o juiz Emerson Gomes de Queiroz Coutinho deu ganho de causa a Diego e Mário. Na ação, Luiz Henrique pedia a reintegração do clube, que, através de contrato de arrendamento até o final de 2022, passou a ser gerenciado pelos empresários. O processo segue na Justiça e, em sua última movimentação, aponta que está “conclusos para sentença” desde 7 de fevereiro deste ano. A ação tem como assunto ‘Esbulho/Turbação/Ameaça’ e pode definir a validade ou não do contrato.
O ponto é que Diego e Mário não se encontram no Mogi há um bom tempo. Em agosto de 2018, os sul-coreanos André Ko e Denis Ahn foram convidados por Diego a ajudar na gestão. Chegaram a ajudar financeiramente, inclusive, no processo movido por Oliveira contra os parceiros. Já em outubro de 2018, observando a necessidade de uma presença mais direta e quase que diária no clube, André e Denis entraram ‘de cabeça’ no projeto.
Entre ações mais fortes e momentos mais distantes, estiveram no clube até o primeiro semestre do ano passado. Neste meio tempo, foram responsáveis pelo convite a Jaime Marcelo, que se juntou aos parceiros na administração do futebol mogimiriano. Entre os legados destas ‘terceirizações das terceirizações’ está a conquista de laudos para a liberação do Estádio Vail Chaves e a retomada de partidas do Sapo, com a presença na São Paulo Cup, competição em que o clube foi eliminado na semifinal.
Clube flerta com terceirização há mais de 10 anos
Terceirizar o futebol do Mogi Mirim Esporte Clube é um objetivo que vem desde os tempos de Wilson Fernandes de Barros. Pouco tempo antes de falecer, o ex-presidente do Sapão aceitou sugestão para prover parceria em seu departamento de futebol. Outras agremiações seguiam o modelo, que tinha como objetivo principal atrair investidores para o clube, mas também proteger o patrimônio já conquistado.
Em outubro de 2008, meses após o falecimento de Wilson, o clube passou a ter uma nova gestão, mas sem uma terceirização de fato. Rivaldo, ex-jogador do clube, assumiu a presidência. Jamais foi dono, apenas o representante máximo de um grupo de associados que, claro, estava alinhado com ele. Era o rito natural no Mogi, desde os tempos de seu vitorioso antecessor.
Com Rivaldo, o Sapão teve parceiros na gestão. Entre 2011 e 2013, o empresário Hélio Vasone Júnior, ligado a uma empresa de logística e proprietário da Energy Sports, empresa que gerencia a carreira de atletas, como o atacante Gabriel Jesus, se tornou co-gestor do clube. Não houve a separação do futebol, como ocorre em clubes como o Ituano, modelo entendido como o ideal pelos antigos diretores de Wilson de Barros.
Em janeiro de 2013, Vasone chegou a ser anunciado como novo presidente do Sapo. Porém, não houve concordância sobre as dívidas que o Mogi teria com Rivaldo, principalmente na avaliação dos Centros de Treinamento, que seriam usados como dação de pagamento. A mudança diretiva melou, Rivaldo se manteve na presidência e Vasone deixou o clube ao final do Paulistão de 2013.
Em 2014, após o estadual, Rivaldo chegou a colocar o clube “à venda”. O anúncio, na verdade, buscava um substituto ou parceiro na gestão. Chegou a publicar acordo com Adir Leme da Silva, ex-presidente do Arapongas-PR. Porém, dias depois, a parceria naufragou, Rivaldo se manteve sozinho à frente do Mogi e, mesmo com o acesso à Série B conquistado em 2014, continuou o projeto de saída do clube.
A renúncia foi formalizada em de julho de 2015, quando Luiz Henrique de Oliveira assumiu a presidência. No início, ele contava com o suporte do seu tutor, o empresário português Victor Manuel Simões. Em novembro daquele ano eles romperem, com trocas de acusações. Oliveira conseguiu respaldo judicial para seguir, foi reeleito e seguiu no cargo até 31 de dezembro de 2019.
Em 2016, anunciou a terceirização exclusiva da base ao empresário Eder Ferreira. Dono da BTS, uma empresa ligada a empresários de Hong Kong, ele deixou o clube em 2017, ingressou na Justiça e hoje possui ação com valor estipulado em mais de R$ 10 milhões contra a agremiação. Em 2018, Granada e Butijão assumiram todo o departamento de futebol e, como já citado nesta página, deixaram o clube em maio, dando lugar ao último grupo gestor do clube.